quinta-feira, março 28, 2024
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“Não, Não Olhe” amplia leque de Jordan Peele ao trazer aliens e críticas ao entretenimento

‘Não, Não Olhe’, o novo filme de Jordan Peele estreou no final de agosto no cinemas brasileiros. A história manteve-se bem misteriosa durante toda a produção, com uma sinopse simples divulgada: dois irmãos avistam algo estranho e horripilante no céu. É o terceiro trabalho de Peele, que alcançou grande sucesso com “Corra”, ganhando um Oscar de melhor roteiro original, e “Nós”.

Jordan Peele tem se consolidado, acima de tudo, como uma figura extremamente criativa. E, por ter baseado suas raízes no horror, pode causar certo estranhamento em seu novo trabalho. ‘Não, Não Olhe’ não descarta sequências genuinamente assustadoras ou incômodas, podendo ser até perturbador dependendo do grau de envolvimento do espectador, mas seus objetivos vão além deste fator.

Um fator marcante de Peele é que seus filmes apresentam críticas bem explícitas (em “Corra!”, principalmente, com o comentário racial). Em seu novo filme, a ideia é um pouco diferente. Olhando de forma mais generalista, fica evidente sua análise à cultura do entretenimento quando somos apresentados a Jupe (Steven Yeun). Nos irmãos OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald (Keke Palmer), porém, há bem mais substância.

Não deixa de ser, em primeiro plano, um filme sobre registrar algo que não se pode descrever. Mas é também um longa sobre resistência ancorada na fé cinematográfica. Os dois protagonistas são perfeitamente distintos e complementares. OJ representa o trabalho braçal, o homem que não questiona, com uma ausência de sentimentos aparentes. A voz pra dentro, quase inaudível, o humor inexistente. Emerald, do outro lado, é extrovertida, tem uma expressão política e quer “brilhar”. Sendo assim, estão juntos para aliar sobrevivência e grandeza.

Pela temática alienígena de invasão juntamente da história familiar, é difícil não associar a ‘Sinais’, de Shyamalan. Entretanto, se Mel Gibson e sua família estavam juntos um do outro, em casa, perante a ameaça, os irmãos de ‘Não, Não Olhe’ precisam percorrer longos cenários, ir em busca de razões e de ajuda para realizar o registro histórico. É quase como um desejo de reparação dos negros que tem sua voz calada e, além de sobreviver, também querem mostrar que eles podem vencer a ameaça. Não exatamente como vaidade, retratada no personagem de Yeun, mas como humanização de um povo.

‘Não, Não Olhe’ ainda nos brinda com referências populares que valem a pena entender e se aprofundar ao fim da sessão, como a perturbadora história do chimpanzé Travis e Charla Nash, retratada através de Goddy por conta de um sonho que Peele teve anos atrás. Acaba fazendo todo sentido, no filme, a referência a Oprah. Há diversas formas de ficar famoso. Seja como Emerald, como Jupe ou como Charla. ‘Não, Não Olhe’ está entre nós para realizar um comentário honesto sobre a indústria, mas é também um presente para cinéfilos que apreciam algo mais clássico, voltado para ação, horror e até mesmo o western.

Texto de Gabriel Belo.

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