A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) assinou nesta segunda-feira (18) um Memorando de Entendimento com a Kyowa Kako do Japão. A parceria visa a realização de estudos para o desenvolvimento de oportunidade de negócio associada ao tratamento avançado de lodo de esgoto e resíduos orgânicos no Estado do Paraná por meio do uso de biotecnologia proveniente do Japão incorporada ao processo de compostagem.
A assinatura, no Palácio Iguaçu, contou com a presença do vice-governador, Darci Piana, do diretor-presidente da Sanepar, Wilson Bley Lipski, do diretor de Inovação e Novos Negócios da Companhia, Anatalicio Risden Júnior, entre outras autoridades.
A assinatura do documento está ligada a uma missão internacional liderada pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior em março de 2023 no Japão e na Coreia do Sul. Em abril daquele ano, foi assinado um Acordo de Cooperação Técnica entre a Sanepar e a empresa japonesa Kyowa Kako. O acordo, com duração de 24 meses, contemplou um projeto-piloto para testar uma avançada tecnologia de tratamento biológico de materiais orgânicos denominada compostagem hipertermofílica aerada.
O piloto, executado na ETE Belém, em Curitiba, iniciou em junho de 2024 e foi concluído no último mês de setembro. Com resultados promissores no projeto, a parceria evoluiu para uma nova fase, tendo em vista estudos de viabilidade econômica e financeira e de novos negócios em relação ao lodo e ao emprego da tecnologia japonesa no Estado do Paraná.
Piana destacou que esta parceria vai trazer benefícios não só para a Sanepar, como também para a agricultura paranaense, que vai utilizar os fertilizantes oriundos deste projeto. “Ganha a Sanepar, ganha o Estado, ganha a Kyowa Kako, e ganha o nosso meio ambiente em função daquilo que vai acontecer através desta parceria, que é muito importante para o Paraná”, disse.
“Este foi um dia de alegria para a Sanepar, uma parceria que estimamos que seja longa e proveitosa. Estamos trazendo tecnologias novas, principalmente direcionadas à questão do lodo, transformando o que hoje é um passivo, num grande ativo, por meio da compostagem, podendo ser direcionada para a agricultura, principalmente a agricultura orgânica”, destacou Lipski.
Risden Junior explicou que a vinda de novas tecnologias vão permitir a solução para um passivo que a Sanepar tem. “Quanto mais eficiente e eficazes nos tornamos, mais produzimos lodo, e precisamos buscar uma solução que está dentro do core da empresa, de maneira que, de custo, se torne um benefício, uma receita assessória. Então, por esta questão da compostagem e pelo sucesso que foi a prova de conceito, eu considero que vamos ter novos fronts para desbravarmos e, principalmente, poderemos trazer para a Sanepar uma nova visão”, detalhou.
Com a Sanepar foi a primeira vez que a Kyowa Kako atuou nesse tipo de atividade no Brasil, embora já opere este processo em 42 plantas de compostagem em todas as regiões do Japão e em uma planta nas Filipinas. Com 65 anos de experiência em serviços ambientais no Japão, a empresa também atua no tratamento de efluentes, chorume de aterros sanitários, além de tratamento de resíduos orgânicos e na agricultura.
O cônsul geral do Japão no Brasil, Yasuhiro Mitsui, reforçou que a amizade entre o Japão e o Brasil é muito especial. “Temos a capacidade de melhorarmos entre si, quando trabalhamos juntos. Um exemplo é a Kyowa Kako, transformando lodo de esgoto em fertilizante, ajudando no desenvolvimento do Estado do Paraná”, disse. “A empresa espera introduzir este novo negócio junto com a Sanepar e obter sucesso na questão do tratamento do lodo”, complementou o vice-presidente da Kyowa Kako, Kazutaka Konishi.
TECNOLOGIA – A compostagem hipertermofílica aerada é uma tecnologia que utiliza micro-organismos patenteados pela Kyowa Kako, que transformam a matéria orgânica, como o lodo de esgoto e outros tipos de resíduos orgânicos, em fertilizante higienizado para ser utilizado na agricultura, por meio de uma fermentação orgânica controlada e usando somente a aeração para que se tenha uma temperatura elevada (da ordem de 90ºC), dispensando o uso de outros substratos como podas de árvores, casca de arroz, entre outros.
Conforme explica o vice-diretor do Departamento de Negócios no Estrangeiro da Kyowa Kako, Kiyonori Nakamura, a partir de 45 dias a planta produz um fertilizante seguro para ser utilizado na agricultura. “Todos os micro-organismos patogênicos já foram eliminados com a alta temperatura durante vários dias. Assim, nós conseguimos utilizar a tecnologia para ganhar sinergia na questão da segurança alimentar, para que este fertilizante consiga prover uma agricultura sustentável em qualquer lugar do mundo, principalmente aqui, no Estado do Paraná”, comentou.
PILOTO – A tecnologia de compostagem hipertermofílica aerada foi testada em quatro matrizes diferentes de resíduos: lodo de esgoto aeróbio, lodo de esgoto anaeróbio, resíduos orgânicos e digestato. A operação consistiu basicamente na mistura do composto ativador japonês com os resíduos, suprimento de aeração e execução de revolvimentos periódicos.
“Observaram-se elevados patamares de temperatura em todas as matrizes testadas já no primeiro dia de processamento, sem a aplicação de produtos químicos ou qualquer outro material orgânico, além do composto ativador. O tempo total de compostagem foi de aproximadamente 45 dias, sendo verificada nesse período significativa redução de volume dos materiais processados, com o teor de sólidos totais do composto final atingindo valores superiores a 70%. Assim, a tecnologia japonesa demonstrou ser efetiva no tratamento dos diferentes materiais avaliados, gerando um produto final higienizado e com elevado potencial agronômico, fato comprovado por meio de análises laboratoriais”, informou o engenheiro Gustavo Possetti, especialista em Pesquisa e Inovação na Sanepar.
Ele complementa que o composto final possui propriedades para uso como fertilizante orgânico ou como matéria-prima para a produção de fertilizantes organominerais. Além disso, ele pode ser utilizado como “semente” para novos lotes de tratamento de resíduos orgânicos.
“Um fato interessante sobre a tecnologia é que o composto final pode ser reutilizado, servindo como composto ativador no tratamento de um novo lote de materiais orgânicos. Portanto, uma vez importado do Japão, este composto ativador poderá ser produzido aqui no Brasil, dispensando novas importações e/ou ser utilizado como fertilizante orgânico ou base produção de fertilizantes organominerais”, disse.
Os testes foram acompanhados de perto pelos técnicos da empresa Kyowa Kako, que estiverem presentes no Brasil ao longo de todos os experimentos. O projeto também foi visitado por personalidades como o cônsul adjunto do Japão, Rei Oiwa, e o representante sênior da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) no Brasil, Aoki Issei.
PRESENÇAS – O evento de assinatura do Memorando de Entendimento também contou com a presença do secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aldo Nelson Bona, do assessor de Relações Institucionais e Cooperação Internacional da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Paulo Afonso Schmidt, do diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Fundação Araucária, Luiz Márcio Spinosa, da diretora de Internacionalização da Fundação Araucária, Eliane Segati Rios; além de autoridades japonesas do Consulado Geral do Japão e da Kyowa Kako.
Deixe um comentário