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“Nossa história é uma série da Netflix”, diz Eduardo Bueno no Memorial de Curitiba


Uma aula de história, contada com humor e irreverência pelo escritor, jornalista, editor e tradutor Eduardo Bueno (Peninha), fechou a programação de quinta-feira (29/9) do I Festival da Palavra de Curitiba. O evento vai até domingo (1°/10) com uma extensa programação gratuita, quase toda em espaços culturais do Centro Histórico de Curitiba.

O jeito crítico e divertido do autor de falar sobre a história do Brasil, contada numa série de livros e no seu canal no Youtube, atraiu grande público para o Memorial de Curitiba.  

Entre muitas brincadeiras, o autor gaúcho começou falando sobre a origem do nome de Curitiba e sobre o seu fascínio pelas araucárias. Disse que viajou por mais de 70 países e nunca viu nenhuma espécie tão espetacular quanto essa, nativa do sul do continente americano e árvore símbolo do Paraná.

Revelando sua paixão “intensa e magmática” pela história, Bueno conta que começou a escrever livros por achar que ela estava “aprisionada” nas salas de aula. Os mais de 1 milhão de exemplares vendidos da sua coleção Terra Brasilis mostram, segundo ele, que o brasileiro quer conhecer a sua história e tem apreço pelas suas raízes. Na palestra, o escritor fez muitas referências ao Paraná.

Narrativas

“A história é uma fabulação, um recorte, uma edição. Ela se constrói numa narrativa. Nessa construção, o Paraná e Santa Catarina ficaram sufocados durante séculos por duas narrativas que se impuseram com muito mais força, a de São Paulo, com os bandeirantes, e a do Rio Grande do Sul, com os gaúchos”, explicou, reconhecendo que o seu próprio canal no Youtube, o Buenas Ideias, tem poucas informações sobre referências históricas paranaenses.

Segundo o escritor, somente há cerca de 50 anos o Paraná e Santa Catarina começaram a ter consciência mais plena da sua própria história. Referindo-se às paisagens e à geografia, Bueno diz que a narrativa sobre esses estados se passa em “locações maravilhosas.”

Ele citou o Movimento Paranista, criado nos anos 20 e 30 por intelectuais que resolveram cultuar elementos da natureza local. “Tem esses mares e essas montanhas extraordinárias”, elogiou. Foi quando mencionou o caminho do Peabiru. A trilha indígena que sai do Atlântico em direção à Cordilheira dos Andes também é outro de seus fascínios.

Complexidades

“Desconhecer que o Brasil foi percorrido por trilhas indígenas que deram origem a muitas de nossas estradas, que todas as grandes cidades do Brasil foram construídas sobre tabas indígenas, que o Brasil foi o país que iniciou o mundo em três drogas horrorosas e viciantes – o pó branco (açúcar), o pó preto (café) e o pó marrom (tabaco) -, que o Brasil importou da África o maior contingente de escravizados de toda a história da humanidade, que foi o último país do mundo a abolir a escravidão e que formou uma bancada ruralista que construiu um país desigual, injusto, desequilibrado, com racismo estrutural, com genocídio de seus povos originários e com sofrimento de escravizados nos torna desterrados de nossa própria terra, faz com que a gente não conheça as reais complexidades e problemas do nosso país”, afirmou.

Para Eduardo Bueno, é possível fazer uso das redes sociais e de métodos audiovisuais para disseminar esse conhecimento. “A história é nossa, ela vibra, pulsa, é repleta de sangue, suor, vidas humanas. Ela é uma série da Netflix”, brincou.  

Ao encerrar, insistiu que é preciso resgatá-la. “A única real transformação que a gente pode almejar para o Brasil é a transformação pelo conhecimento, e o conhecimento passa pela escola e pelos nossos heróis, que são os professores”, concluiu.

Um papo reto com os booktubers

O tema Youtube seguiu pela manhã desta sexta-feira (29/9) no I Festival da Palavra de Curitiba. Com diferentes olhares sobre a literatura, os booktubers foram tema de uma conversa entre dois youtubers, Gisele Eberspacher e Yuri Al’hanati.

No Solar da Curitiba eles abordaram de forma leve e descontraída a importância das resenhas literárias na plataforma Youtube como meio de aproximar novos públicos leitores.

A professora de Língua Portuguesa Silvia Tafarelo levou os alunos do 9°ano do Colégio Estadual Angelo Trevisan para participarem da palestra. Para ela, o bate-papo abordou uma realidade muito próxima dos adolescentes que cada vez mais afinam os laços com a literatura por meio do Youtube. “Gostei muito e acho que tem tudo a ver com o dia a dia deles, inclusive eu utilizo em algumas aulas referências de youtubers porque é dentro de uma linguagem que eles entendem, é uma forma de aproximar o leitor dessa idade da literatura.” disse Silvia.



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