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No Festival da Palavra de Curitiba, Leandro Karnal ensina sobre o poder de transformação da leitura


Ler transforma. Com essa citação, Leandro Karnal, um dos mais importantes pensadores brasileiros da atualidade, deu o tom de sua palestra no I Festival da Palavra de Curitiba. Uma legião de fãs e admiradores lotou o Teatro Guaíra, nesta sexta-feira (29/9) à noite, para ouvir os ensinamentos do professor, historiador e filósofo, quanto ao poder de transformação da literatura.

Pouco antes da apresentação, o prefeito em exercício, Eduardo Pimentel, encontrou-se com Karnal e o agradeceu por ter aceitado o convite para o festival. “Sua participação neste evento é muito importante para Curitiba”, disse Pimentel, ao presenteá-lo com uma gravura da artista plástica curitibana, Denise Roman.

A presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Ana Cristina de Castro, também recepcionou o filósofo. Na oportunidade, Karnal elogiou a iniciativa da cidade de realizar um festival literário. “Aceitei com grande alegria esse convite, porque vejo muito valor em trabalhar com o grande público em espaços voltados ao debate, à critica e ao aprofundamento de ideias”, afirmou.

Vivência curitibana

Leandro Karnal iniciou sua palestra contando que morou em Curitiba em duas oportunidades. A primeira foi quando realizou um estágio de auxiliar de enfermagem na Santa Casa de Misericórdia, enquanto aluno do noviciado de jesuítas, no início dos anos 80. “Morava no Colégio Medianeira, no Guabirotuba, e sempre que passava em frente a este teatro admirava a obra (de Poty Lazzarotto) de sua fachada”, contou.

Depois, ele retornou à cidade para estudar Filosofia. “Morei no Boqueirão, junto à Paróquia Nossa Senhora da Paz. Fazia trajeto de ônibus do Boqueirão até o centro”, lembrou. Ele enalteceu o modelo de planejamento urbano da cidade. “Agora, Curitiba é palco de um festival da palavra. Hoje, Curitiba é a capital da cultura do país”, anunciou.

Poder de transformação

“Uma das mais poderosas exclusões sociais é o analfabetismo”, afirmou Karnal, ao propor uma reflexão sobre a literatura, a leitura e o seu poder de transformação. “Um povo que lê é um povo que pensa. Um povo que lê, que cria livros, que consome livros, seja qual for o suporte, é um povo mais difícil de controlar”, disse.

Para Karnal, uma das grandes virtudes do Festival da Palavra é a sua diversidade. “Se levo em conta que o Brasil é uma imensa sociedade formada por muitos povos, de diversas origens e diversas tradições, essa diversidade através da palavra se torna riqueza”, declarou.

Durante a palestra, Karnal discorreu sobre vários autores brasileiros, enfatizando a beleza, a qualidade e a atualidade de seus textos, entre eles Machado de Assis, Clarice Lispector e os paranaenses Dalton Trevisan e Paulo Leminski, e criticou a forma como são apresentados nas escolas, afastando crianças e jovens do interesse pela literatura. Segundo ele, esses autores fazem um diálogo extraordinário com o nosso tempo. “Eu estou aqui, tenho a honra de estar neste palco de Curitiba, basicamente porque eu li”, atestou.

Karnal comentou sobre o analfabetismo funcional, a evolução da linguagem e a questão da polarização de posicionamentos e ideias. “O Brasil se surpreendeu com a quantidade de ódio, porque construiu uma fantasia absolutamente falsa de um país harmônico. Somos um país extremamente violento, marcado pela presença da escravização de seres humanos, pela desigualdade, pela agressão às mulheres. Somos um país homofóbico, um país excludente”, disse.  Para Karnal, com a polarização, atacar se tornou um verbo determinante. “A palavra se transforma em emojis, em frases curtas de agressão e perde a sua capacidade de conduzir o pensamento”, observou.

Fãs

O público presente à palestra comprovou a popularidade do historiador e filósofo. “Eu acompanho o Leandro Karnal pela internet e, quando soube da vinda dele, corri para me inscrever. Ele nos trouxe um momento de reflexão. Mostrou que a gente perde muita oportunidade deixando de ler, enquanto fica olhando vídeo pelo celular”, disse o analista de cobranças Fernando Orchulhak Zeni, acompanhado da esposa Josilena Danusa Gomes, a irmã Elisângela e o amigo Ariel De Vietro.

A estudante de Filosofia da Universidade Federal do Paraná, Gabriela Rodrigues Rocha, contou que está acompanhando as programações do Festival da Palavra. “Não vou conseguir ver tudo o que gostaria, tem muita opção. Amanhã pretendo ir ao Cine Passeio para assistir ao filme Sociedade dos Poetas Mortos”, avisou. Gabriela estava com a mãe, Selma, que é uma fã de Karnal. “Eu sempre acompanho o Café Filosófico” (programa de Leandro Karnal na TV Cultura), disse Selma.

“Acompanho o Karnal e outros filósofos. Achei muito bacana esse evento gratuito oferecido pela Prefeitura”, disse Pedro Bernardi, 21 anos, estudante de Design Gráfico na UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná).

A psicóloga Edna Lima pegou a estrada e veio de Guarapuava direto para a palestra. “Sou seguidora do Leandro, acho ele uma pessoa incrível, admiro demais, é uma referência para mim. Utilizo muito os pensamentos dele na minha profissão”, contou Edna. Acompanhada do esposo, da filha e do genro, ela disse que vai aproveitar o final de semana em Curitiba e pretende assistir a outras atrações do Festival da Palavra.



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