Medida permitiu o escoamento de 125 mil toneladas da produção agrícola paraguaia, avaliada em US$ 45 milhões. Baixa no Rio Paraná é consequência da maior estiagem da história
Termina nesta segunda-feira (31) a operação especial da usina de Itaipu para elevar o nível do Rio Paraná e garantir a navegabilidade a jusante (abaixo) da barragem. A medida, com duração de 11 dias, foi necessária para permitir o escoamento de 125 mil toneladas da produção agrícola paraguaia (soja e derivados), avaliada em US$ 45 milhões e que estava parada havia mais de 50 dias devido à dificuldade de navegação.
A baixa do Rio Paraná é consequência de uma das piores estiagens da história, provocada pelo fenômeno La Niña. Para aumentar o nível do rio, a usina de Itaipu programou elevar a produção em mais 332 mil MWh, nos 11 dias. No total, a produção no período será de pouco mais de 2 milhões de MWh, 19% acima da média de produção dos dias anteriores. O vertedouro não foi aberto, portanto, não houve desperdício de água, a matéria-prima da Itaipu.
O volume de água turbinada (que gerou energia), durante a operação especial, passou a ser de 7.191 m³/s, em média, um aumento de 22% em relação à média registrada no início do mês. Isso representa um volume total de 1.249 hm³ (hectômetros cúbicos) de água.
A ação de Itaipu, que começou no dia 21 de maio, fez com que o nível na confluência dos rios Paraná e Iguaçu subisse progressivamente, até cinco metros, alcançando a cota de 98 metros acima do nível do mar. Antes da operação, a cota estava em 92,5 metros acima do nível do mar – valor que deverá voltar a ser observado a partir desta terça-feira (1º de junho).
Apesar de facilitar a navegação em todo o Rio Paraná, o foco da operação especial foi o trecho abaixo da usina da Yacyretá (binacional argentino-paraguaia), a 480 km de distância da usina de Itaipu. Com mais água, Yacyretá também aumentou a defluência, viabilizando a transposição das barcaças pela eclusa e a elevação do nível a jusante em um metro, na altura do hidrômetro de Ituzaingó (município argentino).
Desta forma, na última quinta (27) e sexta-feira (28), as cargas com produtos paraguaios puderam seguir viagem e chegar com segurança aos portos de Buenos Aires e Montevideo.
Chancelarias
A operação especial na usina de Itaipu atendeu a um pedido feito pelo governo do Paraguai e foi negociada com as chancelarias do Brasil e da Argentina. Toda a operação foi coordenada pela Itaipu Binacional, Operador Nacional do Sistema (ONS) e Administración Nacional de Electricidad (Ande, estatal paraguaia).
Este foi o segundo ano consecutivo que a usina de Itaipu contribui para melhorar a navegabilidade do Rio Paraná e o escoamento da safra paraguaia aos mercados internacionais. No ano passado, a operação ocorreu duas vezes, permitindo a movimentação de 413 barcaças com quase 500 mil toneladas de matéria-prima e valor calculado em US$ 175 milhões.
De acordo com informações publicadas pelo governo do Paraguai, o transporte fluvial é responsável por aproximadamente 80% do comércio exterior do país. Por ano, passam pela eclusa de Yacyretá aproximadamente 2,5 milhões de toneladas, praticamente 25% de toda a produção nacional.
30 milhões de MWh
O fim da operação especial para ajudar o Paraguai coincidiu a produção de 30 milhões de MWh pela usina de Itaipu em 2021. A marca foi alcançada no sábado (29). Esse montante, obtido em cinco meses, é superior ao que produziram, durante todo o ano de 2020, as duas maiores hidrelétricas 100% brasileiras: Tucuruí (29 milhões de MWh) e Belo Monte (29 milhões de MWh). E é o dobro da produção de Jirau no ano passado.
O diretor-geral brasileiro de Itaipu, general João Francisco Ferreira, lembra que o desempenho de Itaipu se mantém elevado mesmo com a hidrelétrica enfrentando, neste ano, a maior seca da história. Isso acontece porque a usina tem alcançado os melhores índices de produtividade da história, indicador que mede a relação entre a quantidade de energia gerada com o volume de água que passou pelas turbinas.
No primeiro trimestre de 2021, por exemplo, esse valor foi de 1,0785 megawatt médio por metro cúbico por segundo (MWmed/m³/s), superior ao alcançado no primeiro trimestre de 2020, quando Itaipu registrou o recorde de produtividade anual. A produtividade média do primeiro trimestre de 2020 foi de 1,0758 MWmed/m³/s.
“O foco da área técnica é aproveitar cada metro cúbico de água que chega à usina para gerar energia. Esse desafio se torna ainda maior no cenário atual de escassez de água. Apesar das dificuldades, nossas equipes binacionais têm respondido com garra. Estamos superando recordes e transformando em energia praticamente toda a água que chega ao reservatório”, afirmou o general João Francisco Ferreira.
O diretor-geral destacou o fato de Belo Monte e Tucuruí, assim como Itaipu, estarem no top 10 das maiores hidrelétricas do mundo. “E, em cinco meses, conseguimos superar a produção anual dessas duas usinas. Isso dá a dimensão da importância de Itaipu para a segurança energética de Brasil e Paraguai”, concluiu.
Os 30 milhões de MWh produzidos em 2021 pela usina de Itaipu seriam suficientes para abastecer o mundo inteiro com energia elétrica por 11 horas; o Brasil, por 22 dias; a cidade de São Paulo, por um ano e um mês; o Paraguai, por dois anos e um mês; o Estado do Paraná, por 11 meses e 14 dias; ou, por um ano, 51 cidades do porte de Foz do Iguaçu.
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