Bem-vindos a esta entrevista exclusiva com um nome que é sinônimo de risos e entretenimento no Brasil: João Leonardo Madalosso, carinhosamente conhecido como “Joca“. Como sócio-proprietário do renomado Curitiba Comedy Club, Joca desempenha com Giuliano Madalosso (irmão), Rose Madalosso (mãe) e Lorena Madalosso (irmã), também sócios, um papel fundamental na construção do cenário de comédia no país. Desde a sua inauguração em 2010, o Comedy Club tem sido muito mais do que um simples palco para piadas; tornou-se um verdadeiro ícone cultural que tem abrigado inúmeros comediantes e revelado talentos brilhantes.
Nesta entrevista, vamos explorar a jornada extraordinária de Joca na criação e administração do primeiro bar de comédia do Brasil. Com uma visão pioneira, ele conseguiu transformar um antigo conceito em um local de destaque, oferecendo aos comediantes um espaço para expressar seu humor único e criativo. Através dos anos, o Curitiba Comedy Club viu milhares de apresentações hilárias e revelou grandes talentos como Afonso Padilha e Emerson Ceará, que hoje são nomes consagrados na comédia brasileira.
Vamos mergulhar nas inspirações, desafios e realizações de Joca, entendendo como ele revolucionou não apenas o cenário da comédia em Curitiba, mas também deixou sua marca indelével na cena cômica nacional. Prepare-se para conhecer a mente brilhante por trás das risadas, o empreendedor visionário que transformou um sonho em realidade e continua a influenciar e inspirar gerações de comediantes e amantes de comédia.
- Busão: Como surgiu a ideia de criar o “Curitiba Comedy Club” e o que o inspirou a ser um dos pioneiros do primeiro bar de comédia do Brasil?
A família inteira nasceu em meio a restaurantes. Já era até esperado que, quando eu quisesse abrir um negócio, ele fosse ligado à gastronomia.
O que poucas pessoas sabem é que, pelo lado do pai, sou ligado aos restaurantes, através da família Madalosso… mas pelo lado da mãe, sou ligado ao mundo do circo. Meu avô era o palhaço profissional, conhecido como Palhaço Gigio. Ele trabalhava com os irmãos Queirolo e já participou de vários programas de TV em sua época.
Aí juntam-se esses dois fatores, com a habilidade que eu desenvolvi no movimento escoteiro de sempre ficar por trás das produções nos chamados “fogos de conselho”… acabou sendo inevitável eu querer algo que ligasse a gastronomia e a cultura. Mas esse é apenas o background. O verdadeiro estopim foi o seguinte:
Entre 2005 e 2006, trabalhei para a Disney, nos parques. Novamente, em restaurantes. Porém, lá dentro da Disney, os funcionários não pagavam para ir em nenhuma das atrações da Disney. Toda terça-feira era o dia mundial dos funcionários da Disney se encontrarem nas baladas da Disney (sim, isso existiu). O pessoal todo combinava de se encontrar umas 11, meia-noite, por aí. Mas como o parque em que eu trabalhava na época fechava mais cedo, eu saía do trabalho e já ia para os bares esperar os amigos, fazer o esquenta. E enquanto eu estava sozinho, sempre acabava indo ao Comedy Warehouse, que era um comedy club da Disney especializado em comédia de improviso. Foi aí que tive meu primeiro contato com um comedy club propriamente dito. Eu era um frequentador assíduo.
Ao voltar para o Brasil, comecei com minha família a procurar algum negócio para abrir, desenvolver algo à parte do Dom Antônio. Mas, como empreendedor, sempre pensei que qualquer negócio precisa de um diferencial. E era exatamente esse diferencial que eu não estava conseguindo encontrar.
Enquanto essa ideia não aparecia, estava lá eu trabalhando no caixa quando um comediante chegou para pegar umas cortesias de patrocínio de uma peça que ele estava apresentando.
Contei a ele minha ideia de abrir algo ligado à gastronomia e que eu gostaria que tivesse uma noite de stand-up neste novo negócio.
Foi aí que veio a pergunta desse comediante que deu a virada:
“-Se você gosta de comédia e quer abrir algo… por que não abre um Comedy Club? Não existe nenhum no Brasil!”
Quando ele me deu essa informação, eu não acreditei. Procurei em todos os sites de pesquisa da época (se bobear isso faz tanto tempo que ainda se usava o Cadê?, o Altavista, sei lá) e eu realmente não encontrei nenhum Comedy club ou bar especializado em comédia em todo o território brasileiro. A única coisa que existia eram noites de comédia específicas em bares de várias cidades.
O ano era 2009. O YouTube estava engatinhando, o CQC, um programa formado só por comediantes, estava bombando, e no Orkut todo mundo postava vídeos de comédia todos os dias. Mal haviam smartphones, e “app” ainda se chamava programa.
Foi aí que caiu a ficha. Este é o diferencial. Irei abrir o primeiro comedy club do Brasil. E em 18 de março de 2010 nós inauguramos!
- Busão: Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao estabelecer o “Curitiba Comedy Club” e como superou essas dificuldades?
Uma grande dificuldade que eu tive no começo, e às vezes ainda tenho, foi fazer o público entender o que raios é um Comedy Club. Nos primeiros meses, todo mundo achava que era um teatro. Aí comecei a chamar de “Bar Curitiba Comedy Club”, para ficar bem na cara, além de colocar música ao vivo e divulgar promoções típicas de bares, como happy hour, double, etc, etc, etc.
Felizmente, hoje em dia, a maior parte já entendeu. Ainda tem gente que pergunta se tem mesa, se tem lugar marcado como em um teatro, se pode assistir aos shows de pé… mas agora o povo já entendeu.
Houve também a grande dificuldade que é empreender no Brasil. Aqui no Brasil, tudo conspira para você não empreender. Ao abrir uma empresa, você se sente quase como um bandido, como alguém que irá quebrar todas as leis a qualquer minuto.
E antes do Comedy fechar (não tínhamos planos de reabrir, era para fechar de vez mesmo), eu sempre falava que abrir uma empresa no Brasil era muito difícil. Foi quando resolvemos fechar que eu descobri que fechar uma empresa consegue, inexplicavelmente, ser ainda mais difícil que abrir.
- Busão: Ao longo dos anos, como você percebeu a evolução da cena de comédia no Brasil desde a fundação do clube? O que mudou e o que permaneceu constante?
A comédia no Brasil ainda está engatinhando. Se você observa um dos Comedy Clubs mais tradicionais dos Estados Unidos, eles têm 60 anos de história. Nós, por outro lado, temos apenas 13 anos.
Mas tenho que mencionar que, ao longo desses 13 anos, testemunhamos uma evolução enorme. Quando inauguramos, por exemplo, era estritamente proibido gravar os shows. Era algo do tipo que um humorista processaria você se gravasse, mesmo que fosse apenas uma gravação. Se alguém pedisse para postar, levaria críticas duras!
Hoje, é impensável para um humorista não gravar e não postar. Também percebo que, desde nossa entrada em cena, a comédia se profissionalizou e se organizou. As pessoas passaram a enxergar a comédia como um trabalho, e não apenas um sujeito aleatório falando coisas no palco.
A única coisa que permanece constante, a meu ver, é que Curitiba tem o público mais honesto do Brasil para Stand-up. Essa é a opinião que escuto de todos os humoristas de fora há mais de 10 anos. O público curitibano é sincero: se você não é engraçado, o público não vai rir. Por outro lado, se você é engraçado, a casa literalmente desmorona com tanto riso.
Tenho observado muitos comediantes famosos enfrentarem até certo receio das plateias curitibanas. É somente após um show ser bem-sucedido aqui que ele pode ser considerado um sucesso em todo o Brasil.
- Busão: Quais são os critérios que você considera ao selecionar comediantes para se apresentarem no “Curitiba Comedy Club”? Existe algum estilo específico de comédia que o bar busca promover?
O principal critério é ser engraçado e proporcionar um ótimo show. Sempre tivemos o foco em desenvolver bem a cena local, uma vez que Curitiba abriga excelentes comediantes. Nos últimos anos, também percebemos a especialização na comédia e temos trabalhado para promovê-la, pois quando um comediante aborda um tema altamente específico, o público se identifica profundamente. Parece quase que o comediante é um amigo íntimo.
Atualmente, oferecemos shows direcionados para: professores, enfermeiros, trabalhadores de fábrica, cowboys, fãs de música sertaneja, amantes de gatos, evangélicos, praticantes de umbanda e até mesmo mulheres com filhos que aproveitam a “vale night” para sair e beber pela primeira vez desde que se tornaram mães (sim, essa é a descrição exata do público de um dos nossos shows).
Além disso, sempre buscamos desenvolver novos produtos e talentos. Atualmente, estou investindo bastante no Comedy News, um projeto inspirado no “Weekend Update” do “Saturday Night Live”, onde comentamos as notícias da semana.
- Busão: Como o “Curitiba Comedy Club” contribui para o desenvolvimento e apoio aos talentos locais de comédia?
Nós somos o único comedy club do Brasil a efetivamente ter um tipo de “programa” de formação de novos comediantes, por meio da noite de open mic. Essa noite é dedicada exclusivamente aos iniciantes que desejam ter suas primeiras experiências no palco.
Após passar por essa fase, há vários degraus que o comediante começa a conquistar: começa fazendo aberturas de shows sem cachê, faz participações curtas, integra elencos, faz apresentações solo… até finalmente chegar ao ponto alto, que é fazer um show solo no sábado.
No Comedy Club, você sempre verá comediantes curitibanos se apresentando todas as semanas, o que não fica nada a dever para alguns dos maiores talentos da comédia brasileira.
Se olharmos hoje para os dez comediantes mais influentes da cena nacional, pelo menos 5 deles tiveram a oportunidade de passar por nossa casa, onde demos a chance para que subissem esses degraus de desenvolvimento.
Localização
O Curitiba Comedy Club está operando em conjunto com o Restaurante Dom Antonio, situado no icônico bairro de Santa Felicidade, conhecido por seu serviço de alimentação excepcional.
Endereço: Avenida Manoel Ribas, 6121 – Santa Felicidade
Informações no site: https://curitibacomedyclub.com.br/
Instagram: https://www.instagram.com/curitibacomedy/