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Horta só de mulheres distribui verduras a famílias da Vila Torres

Horta Urbana Santa Luísa de Marillac. Foto: Levy Ferreira/SMCS

Um oásis verde, repleto de hortaliças, entre casas, barracões, prédios de estudandes universitários e o campus da PUCPR. No bairro Prado Velho, está aquela que é a horta urbana mais central de Curitiba. Mas, não bastasse este ineditismo, o local ainda é cultivado apenas por mulheres que têm acesso à alimentação saudável. 

Tudo o que é cultivado na Horta Urbana da Associação Santa Luísa de Marillac é compartilhado com os moradores da região, em especial as famílias que vivem na Vila Torres. 

A horta do Prado Velho foi criada em 2017, dentro de um terreno particular por iniciativa das integrantes da Associação Santa Luísa de Marillac, ligada à Paróquia São João Batista. O proprietário cedeu espaço em comodato para a Prefeitura, que repassou para a associação. Já a Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN) é responsável por fornecer os insumos e assistência técnica.

Horta Santa Luísa de Marillac. Foto: Levy Ferreira/SMCS

No local de 300 metros quadrados, 18 mulheres, muitas delas moradoras da Vila Torres, plantam, cultivam e colhem cerca de 80 espécies de hortaliças. “Mas, por conta da pandemia, neste momento, estamos com apenas algumas trabalhando na horta. Mas até o fim do ano esperamos poder chamar todas de volta”, conta Regina Maria de Oliveira, presidente da Associação Santa Luísa de Marillac. 

Apesar de não estarem colocando mão na terra, as agricultoras urbanas que não estão trabalhando no cultivo recebem periodicamente uma sacola com alface, couve, almerão, salsinha e outros temperos.

“Como tenho problema de saúde, não estou plantando agora, mas venho sempre pegar minha sacola com verduras para mim e meu neto que vive comigo. Essa sacola é uma benção de Deus”, conta Maitêz Alves da Silva, 69 anos, moradora da Vila Torres. 

Maitêz Alves da Silva, 69 anos, moradora da Vila Torres. Foto: Divulgação

Segundo a presidente da Associação Santa Luísa de Marillac, mesmo quem não é agricultor no local acaba ganhando uma sacola.

“Não podemos negar alimento para quem precisa”, garante ela, que ainda coordena uma ação da entidade de distribuição de cestas básicas para famílias da Vila Torres.

Bem-estar 

Além de garantir alimentação saudável, a horta da Associação Santa Luísa de Marillac traz outros benefícios para as agricultoras urbanas.

“O espaço conecta histórias e resgata memórias afetivas, muito importantes para a maioria das participantes que é idosa”, salienta Luiz Gusi, secretário municipal de segurança alimentar e nutricional. 

As hortas trazem bem-estar, pois ajudam a exercitar a coordenação motora do produtor ao mexer com a terra e incentivam a convivência, contribuindo até para tratar casos de depressão. 

“Ali tem alface, couve e até peixinho, uma panc (Planta Alimentícia Não Convencional), sem falar naqueles temperos”, mostra com orgulho a professora aposentada Maria Mazon Buratto, 80 anos, uma das poucas agricultoras urbanas que atualmente cultivam e colhem na horta do Prado Velho. Segundo ela, a ida diária ao local é uma verdadeira terapia. “A gente conversa, mexe com a terra e ainda sai daqui com hortaliças para nosso almoço ou jantar”, afirma ela. 

Horta Urbana Santa Luísa de Marillac. – Na imagem, Maria Mazon Buratto, 80 anos. Foto: Levy Ferreira/SMCS

A dona de casa Inês Munado, 71 anos, é companheira frequente de Maria Mazon no plantio e distribuição das hortaliças para os moradores da região. Segundo ela, o trabalho na horta da Associação Santa Luísa de Marillac é uma viagem ao passado. “Eu resgato minhas memorias de infância e juventude, quando morava em Videira (SC) e Cascavel, no interior do Paraná. Quando coloco as mãos na terra eu me vejo lá atrás, no sítio, e isso me deixa feliz”, explica. 

Horta Urbana Santa Luísa de Marillac. – Na imagem, Inês Munado, 71 anos. Foto: Levy Ferreira/SMCS

Programa

A Prefeitura de Curitiba dá apoio, através da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar (SMSAN), a 100 hortas urbanas da capital, entre comunitárias, escolares e institucionais (em asilos e casas de recuperação de dependentes, por exemplo). As áreas de cultivo ocupam 157,5 mil metros quadrados,  com  5,7 mil produtores participando diretamente do plantio e 17,9 mil pessoas sendo beneficiadas com os alimentos (entre agricultores, familiares e vizinhos). A maioria se espalha em bairros como CIC, Alto Boqueirão, Tatuquara, Caximba, Campo do Santana, Sítio Cercado e Cajuru.