Grupo de mulheres no Paraná transforma lixo tecnológico em inclusão social

Smartphone que cai no chão e racha a tela, mouse que pifa, monitor que deixa de funcionar, teclado de notebook que não responde mais aos comandos, laptop que não aceita mais carga… De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), no relatório The global e-waste monitor, o lixo eletrônico gerado no mundo, em 2030, chegará a 74 milhões de toneladas por ano. E, mesmo que se trate de uma perspectiva para daqui sete anos, muitas pessoas estão pensando seriamente em como contribuir para reverter ao máximo o impacto dos resíduos eletrônicos no planeta nos dias de hoje. Unidas, essas pessoas, todas mulheres, fundaram a Tech Girls, que atua em duas vertentes: na educação em tecnologia da informação, capacitando as pessoas para o mercado de trabalho; e no tratamento adequado do lixo eletrônico para geração de renda.

Como o foco da Tech Girls é reduzir o déficit de profissionais mulheres na área da TI, ela atrai e capacita as comunidades femininas em vulnerabilidade social para ocuparem vagas em um setor da economia que anda na contramão da crise no mercado de trabalho. Ou seja: tem mais vagas do que gente. 

Projeto capacita mulheres em vulnerabilidade: do software à produção de biju

A trilha de aprendizado, no período de três meses, é oferecida de forma presencial e gratuita para a aluna e tem como posicionamento: primeiro o entretenimento;  na sequência, a educação. O treinamento compreende uma jornada de cinco módulos de cursos: começando com Arte-Lixo Eletrônico; Empreendedorismo Digital; Manutenção de Notebook; Lógica de Programação e Desenvolvimento de Softwares. A desenvolvedora de software Gisele Lasserre, fundadora da Tech Girls, explica que, durante o curso, as alunas recuperam notebooks obsoletos por meio de uma oficina de manutenção e, ao levar o equipamento para casa, têm a oportunidade de continuar os estudos e já prestar serviço no mercado.

Outro panorama da Tech Girls é a disciplina Arte-Lixo Eletrônico, a qual, como o próprio nome sugere, transforma as peças que não têm mais possibilidades de ser aproveitadas em bijuterias para comercialização. Ademais, o projeto estabelece uma conexão emocional com as alunas de baixa renda. “Falar de artesanato aproxima e funciona como um imã para este público, quem nunca ligou um computador antes, mas, ao ter contato com este, começa a despertar interesse pela tecnologia. Assim, por meio dessa conquista de confiança, é possível transformar essas mulheres em desenvolvedoras de softwares”, comenta a fundadora da Tech Girls.

A ideia deu tão certo que hoje os acessórios femininos e artigos de decoração já estão registrados com a marca bijouxtech®.

A Tech Girls, desde que foi fundada, em 2017, já impactou a vida de mais de 580 mulheres com escolas próprias em Curitiba, São Paulo, Taubaté e Florianópolis, além de associações de bairros e centros comunitários, validando a metodologia própria da marca em termos de educação afetiva de ensino de tecnologia.

Além de Gisele, há no programa mulheres especialistas em desenvolvimento de software, engenharia elétrica e engenharia ambiental, responsável por atender a legislações ambientais de logística reversa.  

Saiba mais

As visitas às escolas Tech Girls podem ser agendadas pelo e-mail gisele@techgirls.com.br ou pelas redes sociais da @techgirlsbrasil.

Importante salientar que as ações da entidade recebem o apoio da Assespro-PR ACATE, presidida por Josefina Gonzalez, a primeira mulher a comandar a Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação do Paraná em 40 anos de existência. Segundo ela, o principal benefício dessa parceria é a promoção de conexões e oportunidades que geram negócios aos associados.

Ademais, ela explica que o fato de a entidade ter se tornando ACATE trará um novo posicionamento, bem como a construção de ações, que estão sendo produzidas graças à profissionalização e à oxigenação de todo o ecossistema de tecnologia e inovação do estado do Paraná, o que está conectado com a meta de geração de negócios.

Um dos principais desafios de sua gestão será conectar e estimular o mercado de trabalho, empreendedorismo e fortalecimento do setor: “E tudo isso passa pelas mulheres, que hoje ocupam menos de 20% dos postos de tecnologia no Brasil, segundo o Cadastro Geral de Empregos (Caged). É sempre válido mencionar que são vários os desafios enfrentados pelas mulheres, tanto pelo entorno como em aspectos comportamentais, por isso a Assespro-PR ACATE tem uma diretoria específica para lidar com esse assunto. Batizada de ‘Mulheres de Tecnologia’, ela é liderada pela Mariana Medeiros Silva, a qual deverá tracionar agendas e ações robustas, parcerias e bons projetos com o intuito de construir as pontes necessárias, facilitações e reforçar a representatividade no setor”.

Mariana Medeiros lidera o time ‘Mulheres de Tecnologia’, na Acate

A Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação uniu-se a sua coirmã do Sul, a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), para um acordo inédito que trará benefícios para as duas organizações. A aposta é angariar mais associados, expansão de mercado e, de modo prático, uma estrutura maior que permita uma amplitude de trabalho. 

Serviços

No dia 11 de fevereiro, a Tech Girls promoverá o workshop “Como não ser refém de um Desenvolvedor de Software para colocar em prática sua nova ideia de negócio?”, das 8 h às 12 h, na unidade da entidade, em Curitiba, localizada na Rua Marechal Deodoro, 630, conjunto 101, Centro Comercial Itália. No local, os inscritos conseguirão compreender de forma gerencial e estratégica sobre a execução de um sistema de software para seu novo negócio, os detalhes que devem ser apresentados para viabilizar um orçamento técnico preciso e realista e os componentes necessários para não ser “ deixado na mão” por um desenvolvedor que abandonou a prestação de serviço do seu sistema. As inscrições podem ser feitas no site Como não ser refém de um Desenvolvedor de Software para colocar em prática sua nova ideia de negócio em Curitiba – 2023 – Sympla

Outro evento também já programado no calendário da Tech Girls é uma ação comemorativa em alusão ao Dia Internacional da Mulher, em março, por meio da oficina de Bijouxtechs, de Arte-Lixo Eletrônico. Com duração de duas horas, o treinamento será ministrado pelas professoras de designer/sustentabilidade Tech Girls, em data e local a ser definidos. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

PUCPR promove 13ª edição de hackathon para criação de jogos digitais

Em fevereiro, os cursos de Jogos Digitais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) vão abrir as portas da instituição para estudantes, programadores, artistas, músicos, game designers, professores criadores de conteúdo e entusiastas de games embarcarem em mais um desafio para criar um jogo digital em apenas 48 horas. Essa é a 13ª edição do Global Game Jam Curitiba (#ggjcwb), um hackathon que já virou tradição e que, ano após ano, vem conquistando mais público e popularidade. 

Unir pessoas com diferentes experiências, promover trocas e explorar todas as etapas do processo de criação dos games são os grandes propósitos do encontro. Como parte da iniciativa Global Game Jam, a edição curitibana busca criar um espaço de criatividade, coletividade e descontração. Foi com esse clima que a capital paranaense se tornou uma das principais sedes do evento, realizado em mais de mil lugares ao redor do mundo. 

“Nossa intenção é criar um espaço confortável, um clima descontraído e acolhedor para todos. Queremos que seja ainda mais divertido desenvolver um jogo neste ambiente do que em casa. Já recebemos cerca de 600 participantes em edições anteriores e, com a volta ao formato presencial, esperamos uma boa adesão dos participantes”, aponta Bruno Campagnollo, coordenador dos cursos de Jogos Digitais da PUCPR e organizador do evento. 

As inscrições para participar do evento já estão abertas e podem ser realizadas até o dia 03 de fevereiro. Como já é tradição do Global Game Jam, os participantes só serão informados sobre o tema no primeiro dia do encontro, que acontece de forma presencial, no Bloco Azul do câmpus de Curitiba da PUCPR. 

Para quem deseja aprimorar os conhecimentos na criação de games, a Universidade está também com inscrições abertas para mais uma edição da disciplina de Game Development Bootcamp, oferecendo uma imersão no mundo dos jogos digitais e conexões com desenvolvedores de várias regiões do Brasil e do mundo. “Além da oportunidade de participar do Global Game Jam, os alunos matriculados na disciplina terão acesso exclusivo a eventos extras antes e depois do evento”, diz Bruno. 

As inscrições para alunos da PUCPR e para estudantes externos ficam abertas até o dia 24 de janeiro, mesma data de início das aulas, que devem ir até o dia 09 de fevereiro. 

Serviço:  

Global Game Jam Curitiba 2023 

De 03 a 05 de fevereiro de 2023  

Evento gratuito  

Programação, inscrições e mais informações: https://blogs.pucpr.br/jogosdigitais/global-game-jam/ 

De inteligência artificial à “chuteira” improvisada: experiência da pandemia aproxima fisioterapeutas de pacientes em busca da recuperação pós-UTI

Todos os dias eles se dedicam a avaliar pacientes internados, analisar exames laboratoriais e dados vitais, e ainda, verificar a necessidade de ventilação mecânica. Situações assim se repetem na rotina diária de fisioterapeutas de Unidades de Terapia Intensiva (UTI), que somam esforços para cuidar de pacientes e permitir uma rápida recuperação por meio dos movimentos do corpo. Quem é desafiado a dar pequenos passos, retomar a respiração espontânea ou reaprender a se alimentar, precisa descobrir na dificuldade a coragem para seguir em frente. “O principal objetivo é devolver a funcionalidade ao paciente, deixando-o novamente apto para funções básicas do dia a dia e, principalmente, minimizar os riscos de qualquer sequela”, explica Rafael Cavalli, fisioterapeuta do Hospital Universitário Cajuru, de Curitiba (PR).

Mesmo diante de um quadro grave de saúde, a reabilitação é sempre possível. E a esperança está na fisioterapia intensiva, que cumpre o importante papel de melhorar a capacidade funcional geral e restaurar a independência respiratória e física do paciente, diminuindo o risco de complicações associadas à permanência no leito. Uma atuação ampla que teve muito destaque na pandemia, quando foi extremamente necessária no tratamento de casos mais delicados de covid-19. “Reduzimos o sofrimento, proporcionamos um tratamento mais digno e evitamos sequelas com exercícios que previnem complicações cardiorrespiratórias, fortalecem a musculatura e aumentam a capacidade pulmonar”, destaca Rafael Cavalli. 

“Com o apoio de um tratamento individualizado e assertivo, diminuímos o tempo de internação, as taxas de reinternação após a alta, o tempo de ventilação mecânica, o uso de oxigenioterapia, as taxas de pneumonia e as sequelas devido ao imobilismo”, relata o fisioterapeuta, que atua no hospital referência em atendimento de trauma e 100% via Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo Cavalli, dentro de uma UTI, todos os pacientes demandam cuidados específicos da fisioterapia, já que mesmo complicações neurológicas e cardíacas afetam de forma direta a funcionalidade do corpo humano. “Mas não conseguimos fazer nada sozinhos, por isso contamos com profissionais de diferentes áreas para somar esforços e alcançar resultados”, pontua.

Artifícios para estimular pacientes

Em alguns casos, a busca pela recuperação de pacientes caminha lado a lado com tecnologias que pareciam ser limitadas ao lazer. Um exemplo são os óculos de realidade virtual que adentram corredores de hospitais, consultórios e laboratórios para permitir que pacientes se sintam imersos em uma espécie de existência fictícia. “Os óculos de RV podem ser usados para ajudar na locomoção de pacientes com Mal de Parkinson, na fisioterapia de quem sofreu derrame cerebral e, até mesmo, para amenizar os sintomas da depressão”, detalha o fisioterapeuta Rafael Cavalli, que faz uso da tecnologia durante o atendimento no Hospital Universitário Cajuru.

O objetivo do tratamento de reabilitação é estimular os movimentos musculares de modo que o paciente crie uma memória motora. É nesse contexto, então, que entra a realidade virtual. Uma ferramenta inovadora na fisioterapia e que tem sido utilizada na avaliação e reabilitação de pessoas com distúrbios do movimento, do equilíbrio postural e da marcha. “Imagine um paciente que perdeu movimentos de determinadas partes do corpo e precisa se submeter à fisioterapia. E se esses exercícios pudessem ser facilitados com o uso de cenários de realidade virtual?”, questiona o fisioterapeuta. 

Já no Hospital Marcelino Champagnat, durante a pandemia da covid-19, alguns profissionais se utilizavam também dos próprios dons e da criatividade para estimular os pacientes a prosseguirem nos exercícios. A fisioterapeuta Bruna Endy Gasparin simulava uma chuteira nos sapatos de proteção, desenhando cadarços nos esparadrapos, para incentivar os pacientes na sessão de fortalecimento das pernas. Já Aloysio Lechenacoske cantava e declamava poemas durante os períodos de fisioterapia com os pacientes. “Tudo sempre de maneira muito espontânea, mas sentimos um olhar lacrimejando, um sorriso. Eu acredito que de maneira lúdica, conseguimos traduzir em esperança a verdade da vida, que é acreditar e sonhar sempre”, explica.

Além do movimento corporal

Fundamental na recuperação das mais variadas disfunções, os fisioterapeutas trabalham lado a lado de uma equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e teólogos. Ao perceber o paciente de uma maneira mais abrangente em relação à patologia, é possível abordar esferas da saúde que vão além da medicina ou da fisioterapia, por exemplo. “Quando unimos profissionais de diferentes vertentes e realizamos um trabalho em conjunto, cumprimos uma importante missão: cuidar do paciente de forma humanizada, devolvendo-o à vida normal”, afirma o médico Ronnie Barreto Arrais Ykeda, clínico-geral e paliativista do Hospital Universitário Cajuru.

“Estabelecer proporcionalidade terapêutica, baseada na individualidade do ser humano e na sua história de vida, é um grande desafio e uma importante virtude para quem trabalha em UTI”, destaca Ronnie, que também é coordenador da Comissão de Cuidados Paliativos do hospital. Segundo o médico, profissionais que lidam com pacientes que se encontram em estado grave precisam avaliar caso a caso, entendendo até que ponto é aceitável alguma intervenção médica, sem prolongar o sofrimento. “Nem tudo o que é tecnicamente possível, é eticamente aceitável. Mesmo com os avanços da medicina, a alta de pacientes de unidades de terapia intensiva nem sempre significa melhora na qualidade de vida. Só com um olhar humanizado a equipe consegue analisar os caminhos possíveis para cada paciente”, conclui.

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com