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Festival da Palavra movimenta o sábado no centro histórico de Curitiba com atrações literárias


O I Festival da Palavra de Curitiba movimentou o centro histórico de Curitiba neste sábado (30/9), atraindo grande público para os eventos literários em diversos espaços. A chuva não atrapalhou nem fez o público desistir de participar das várias atrações programadas, entre bate-papos, palestras sobre escritores paranaenses, oficinas, salão do livro, sessões de autógrafos, exposição e maratona poética com autores curitibanos.

Dentro da sua diversidade, o I Festival da Palavra de Curitiba abriu espaço para a literatura dos povos originários. Depois de Olivio Jekupe, escritor indígena da aldeia urbana Kakané Porã, que participou de um bate-papo na sexta-feira (29/9), agora foi a vez das mulheres indígenas. Juliana Kerexu e Auritha Tabajara se encontraram para um bate-papo neste sábado, no Memorial de Curitiba, sobre a literatura indígena e sua relação com a ancestralidade.

Escritora, poetisa e professora de guarani, Juliana Kerexu é cacique da aldeia Tekoa Takuaty, localizada na Ilha da Cotinga, no litoral do Paraná, e coube a ela o papel de receber Auritha Tabajara, a primeira cordelista indígena do Brasil. “Para todos os povos indígenas, a oralidade é a forma mais forte que existe para estar conectado à ancestralidade. Quando se fala, deve-se falar só coisas boas, para que o espírito da palavra se dissemine pelo mundo, levando o saber milenar que os povos carregam”, explicou Juliana.

Pedra de luz

Auritha, cujo nome em tupi significa pedra de luz, apresentou-se contando sua história através de um poema cordelizado e destacou a vivência familiar como a base da sua formação. “A minha faculdade se chama Gonçala Tabajara e a minha pós-graduação, Francisca Tabajara, minha mãe e minha avó. Elas são meus certificados”, disse.

Numa reflexão sobre ancestralidade, Auritha ensinou que este é o lugar onde mora a sabedoria sobre o mistério da vida. “Nós, indígenas, escrevemos com várias vozes, a voz do barro, do fogo, da água, da natureza, da mãe terra. E essas vozes se unem numa só palavra que é a ancestralidade”, explicou.  

A escritora nasceu numa aldeia indígena do interior do Ceará e atualmente vive em São Paulo. Ela conta que a escrita é algo importante na sua vida desde pequena, ainda que tenha ido para a escola pela primeira vez aos 9 anos. “Eu escrevia poemas sem saber o que eram”, disse ela, que declamou, a pedido da plateia, o seu primeiro cordel, denominado “Grão”.

O livro que a tornou conhecida foi “Coração na aldeia, pés no mundo”, que conta a sua própria trajetória. O livro ganhou o selo altamente recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantojuvenil. “Desde os 9 anos eu já sonhava ganhar o mundo e a poesia é a minha forma de lutar”, disse.  

Horizontes

Quem assistiu ao bate-papo saiu impressionado com a riqueza das reflexões sobre a educação, a cultura, a formação e as relações humanas dentro das comunidades indígenas, transmitidas pelas duas convidadas. “Fiquei emocionada”, disse Ana Luiza Mendes, escritora e professora de História e Português da rede estadual de ensino. Ana Luiza tem acompanhado a programação do festival. “É uma iniciativa importante para a divulgação dos autores locais e nacionais. Esta palestra, especialmente, nos fez refletir sobre a participação dos povos indígenas em todas as áreas do conhecimento”, afirmou.

Adriana Barreta, escritora, editora e integrante do coletivo Era uma vez, destacou a originalidade das palestras. “Achei essencial o convite para essas duas escritoras. Esse encontro realmente amplia os nossos horizontes. Aprendemos muito e conhecemos a produção literária dessas mulheres que têm muito a falar, muito a ensinar. Os organizadores estão de parabéns”, elogiou.

Agito literário

A movimentação no centro histórico começou cedo, a partir das 9h da manhã, com os bate-papos sobre mediação e leitura, no Solar da Cultura, entre Bel Santos Meyer e Lucas Buchile, e um pouco mais tarde, no mesmo local, o debate “Difundindo a palavra”, com Álvaro Posselt.

No Memorial de Curitiba, Cristóvão Tezza e Giovanna Madalosso conversaram sobre a presença de Curitiba nas (suas) literaturas. No final da manhã, o público ainda pôde viajar para um outro universo e acompanhar o debate com escritora indiana Shelly Bohil, sobre palavra e exílio – mulheres poetas do Tibete.

Enquanto isso, no Belvedere da Praça João Cândido, membros da Academia Paranaense de Letras palestraram sobre a obra de autores paranaenses. Marta Moraes da Costa falou sobre Valêncio Xavier, Ernani Buchmann contou histórias sobre Paulo Leminski e Nilson Monteiro apresentou Domingos Pellegrini.

Na Casa Hoffmann, o paulista Michel Sleiman, que é professor do Departamento de Letras Orientais da USP e especialista em literatura árabe, deu uma oficina sobre tradução de poesia. Novos poetas se apresentaram na Feira do Poeta, onde acontece até amanhã a série “24 horas de poesia em Curitiba”.



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