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Espetáculo com clássicos da literatura e encontro do Mary Del Priore fecham o Festival da Palavra de Curitiba


Um bate-papo com a historiadora, escritora e professora Mary Del Priore foi o último da série de encontros com os mais de 150 autores que passaram pelo I Festival da Palavra de Curitiba. A historiadora participou de um bate-papo, na noite de domingo (1º/10), no auditório Regina Casillo, como parte da programação preparada em conjunto com a Academia Paranaense de Letras.

O I Festival da Palavra de Curitiba encerrou com o espetáculo Ave Palavra, encenado na Capela Santa Maria. O recital teatral teve a palavra como protagonista. Com direção de Edson Bueno, sete atores apresentaram clássicos da tragédia grega e textos de grandes nomes da literatura universal. 

O I Festival da Palavra de Curitiba foi realizado pela Prefeitura e Fundação Cultural de Curitiba e transformou a cidade, desde a última quinta-feira, no centro da literatura no país. Espaços culturais do centro histórico estiveram movimentados em cinco dias de bate-papos, palestras, oficinas literárias, pocket shows, saraus, filmes, maratona poética, lançamentos de livros e sessões de autógrafos, com um público estimado em aproximadamente 10 mil pessoas.

A presidente da Fundação Cultural, Ana Cristina de Castro, destacou que a diversidade de autores e abordagens foi um dos pontos altos do festival, fato que foi exaltado por muitos participantes. “Tivemos muitos retornos emocionantes dos nossos convidados, das comunidades afrodescendentes, indígenas, LGBTQIA+ e das mulheres”, observou Ana Castro.  

A curadora do evento, a escritora Luci Colin, analisou o resultado e constatou o impacto positivo para a cidade. “Houve valorização dos talentos locais e ao mesmo tempo se oportunizou momentos com convidados de fora. O festival foi aclamado e abraçado pela população. Isso reforça que Curitiba está preparada e um evento literário dessa dimensão era uma necessidade real que foi preenchida”, avaliou a curadora.

Influenciadora

Autora de mais de 50 livros e com mais de 20 prêmios literários nacionais e internacionais, entre os quais três Jabutis, Mary Del Priore é uma das maiores especialistas na história do Brasil.

“Mary tem o dom de ser aplaudida ao mesmo tempo pelos literatos e acadêmicos e pelo público geral. Ficamos fascinados e presos pela sua prosa versátil e profunda. Ela é uma influenciadora de muitas gerações”, descreveu a escritora e produtora cultural, Regina Casillo, que mediou o bate-papo.

A historiadora expressou sua admiração pela capital paranaense. “Curitiba é o auge da civilidade. Quando a gente vem para cá, é um encantamento, é uma cidade especial, de pessoas envolvidas com a cultura. Pessoas que, através da práxis, que juntam ideia e ação, acabam por transformar a cidade onde vivem. A gente sente no curitibano a interação com o solo, a casa, a terra, o pinhal, a memória e as artes plásticas, o teatro e a música”, disse a escritora.

Mary qualificou a cidade como “um oásis de cultura” e lamentou a pouca atenção dada pelos governos a esse campo do conhecimento. “As academias têm que dar-se as mãos. Os governos têm feito ouvidos moucos a tudo o que diz respeito à educação, à cultura, às letras e ao livro”, lamentou. A escritora é membro das Academias de Letras de São Paulo e do Rio de Janeiro e ao seu lado estavam Rogério Faria Tavares, presidente da Academia Mineira de Letras, que pouco antes falou sobre lusofonia, e Paulo Vítola, presidente da Academia Paranaense de Letras.

Ausência

A escritora disse que todos os artistas e intelectuais envolvidos com literatura têm que se juntar no esforço de mostrar para a juventude que o livro é um “acessório fundamental”. “A prótese do celular que os jovens carregam deveria ser substituída por um livro”, sugeriu. Para Del Priore, o prazer da leitura está ausente da agenda da juventude no mundo inteiro. Na sua opinião, não é uma situação apenas de países onde há desigualdade econômica, pobreza ou onde há falta de investimentos na educação.

Para Mary Del Priore, o Brasil é pouco hospitaleiro com o seu passado e sua memória. “Daí eu achar importante Curitiba estar em incessantes celebrações do seu espaço, da sua memória, da sua literatura”, afirmou.

Ao fazer um breve relato sobre a biografia da artista plástica Tarsila do Amaral, tema do seu novo livro, Mary Del Priore alertou para a necessidade de preservação de arquivos e acervos históricos, especialmente dos municípios, e enfatizou a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, como instituição de grande importância para as pesquisas históricas.

Ela também comentou sobre as dificuldades de ser historiador no Brasil. “Não basta ser historiador, é preciso lutar diariamente. Temos um passado que precisa ser reconstruído. Não conseguiremos fazer as pazes com o passado e com o presente se não tivermos um treinamento com essa disciplina que está desaparecendo no ralo do cotidiano”, disse.

Brilho

Paulo Vítola encerrou o debate enaltecendo o I Festival da Palavra. “Essa semana foi um brilho na nossa vida por termos convivido com tantos conteúdos interessantes, com tantas pessoas que nos fizeram viajar pelo mundo das palavras de tantas formas”, declarou.

Na plateia, muitos estudantes de história apreciaram a oportunidade de ouvir uma de suas principais referências acadêmicas. “Foi uma ótima escolha do festival. Mary Del Priore é alguém que está realmente inserida no debate historiográfico”, disse o estudante Francisco Gerlach, do 6º período do curso de História da PUCPR.

Seus colegas concordam. “As palavras dela nos acalentaram o coração. Está difícil no campo da história, mas a autora mostrou que mesmo assim a gente tem que continuar fazendo o nosso trabalho”, sustentou o estudante Gabriel Ribeiro. “Foi um encontro excepcional. Os livros dela são a base do meu TCC”, contou Pedro Henrique Ferraz Gomes, também da PUCPR.

 



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