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Eduardo Kobra restaura mural e lança site com as obras que fez em São Paulo

O muralista Eduardo Kobra fez  na terça-feira, 24 de janeiro, o restauro do mural “Muro das Memórias”, situado rua Alcebíades 93, ao lado da ponte Cidade Jardim, na capital paulista. O trabalho se insere no projeto “A Arte de Restaurar”, que visa recuperar diversos de seus murais em São Paulo. No dia 25 de janeiro, data em que São Paulo completa 469 anos, Kobra lança um site (inicialmente o site estará em forma de link dentro do site do artista: www.eduardokobra.com) com cerca de 110 de seus murais, divididos em três partes: os murais que estão em bom estado e são mais indicados para serem visitados; as obras que precisam ser restauradas e as obras que foram apagadas (mas que ao menos podem ser vistas e estudadas no site).

“O projeto de recuperação dos murais – ‘A Arte de Restaurar’ – tem a mensagem de que devemos, claro, sonhar em fazer novas obras, novos trabalhos e ter novas conquistas, mas que também devemos saber olhar, gostar, valorizar e zelar pelo patrimônio cultural e histórico da cidade e, também, o que já somos, o que já temos e quem já está ao nosso lado”, afirma o muralista de 48 anos, nascido em São Paulo e apaixonado pela cidade, que conta ter sido sua primeira inspiração artística. “É interessante perceber que a grande maioria dos murais existentes na cidade não é vandalizada. Os murais são cada vez mais respeitados e por isso duram tanto tempo. O desgaste natual dos murais acontece devido à ação do tempo, a validade da tinta e problemas estruturais, como rachaduras e infiltrações”, diz Kobra. De acordo com o artista, um dos primeiros murais que deseja restaurar é o que retrata Oscar Niemeyer e várias de suas obras “escondidas” no rosto do arquiteto, inaugurado há uma década, em 25 de janeiro de 2013, também no aniversário da cidade.    

 “Busco chamar a atenção de pessoas e empresas para apoiarem este trabalho de preservação do patrimônio que está nas ruas da cidade. São Paulo já é conhecida no mundo inteiro pela sua arte de rua. Tem potencial para atrair cada vez mais turistas.   Além disso, a arte de rua auxilia na revitalização de áreas deterioradas e torna o cotidiano dos paulistanos mais bonito e colorido”, diz o artista, que acrescenta: “aos poucos pretendo resgatar todas as obras que já fiz em São Paulo. O link no site servirá tanto para quem deseja conhecer as obras antigas, quanto para quem quer saber onde estão as obras para serem visitadas pessoalmente e, ainda, para quem deseja contribuir, como já disse, com o projeto ‘A Arte de Restaurar’”. 

Entre os exemplos dos murais que podem ser visitados e que estão em bom estado de conservação estão “Coexistência”, rua Henrique Schaumann, em frente à Igreja do Calvário (na Esquina coma rua Cardeal Arcoverde), em Pinheiros; “Seja Luz”, na rua Oscar Freire, nos Jardins; “Ciência e Fé”, no Hospital das Clínicas, à rua Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 255, no Jardim Paulistano; “Janelas Abertas para o Mundo”, rua Visconde de Parnaíba, 1316, na Mooca; e “Olhares da Paz”, na rua Arizona, 1556, na Cidade das Monções. Entre as obras que precisam ser restauradas, além do mural da rua Alcebíades, estão “Oscar Niemeyer”, na avenida Paulista 48; “O Pensador”, rua Cel Luís Americano, 160, na Vila Azevedo; “Racionais MC’s”, na avenida Carlos Caldeira Filho, 4126, na Vila Prel; e “Alta Mira – Belo Monte” (projeto Green Pincel), à rua da Consolação, 806, Consolação. (Nos links que enviamos em anexo estão vídeos e fotos de parte desses murais. No dia 25, aniversário de São Paulo, estarão no site cerca de 110 murais). 

Intensa produção do muralista

Kobra encontra-se em um momento de intensa produção artística, após ter recusado ou cancelado 40 convites nacionais e internacionais durante a pandemia, quando se dedicou quase que exclusivamente a murais relacionados à Saúde e à Sustentabilidade.

Na primeira quinzena de janeiro de 2023 fez em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul um mural de 10 metros de altura por 16 metros de largura, onde destacou o folclorista, compositor, radialista, pesquisador e agrônomo Paixão Côrtes, nascido em Santana do Livramento, em 12 de julho de 1927 e que há 64 anos foi a inspiração para a criação da estátua do Laçador. O monumento à figura do gaúcho, feito pelo grande escultor pelotense Antônio Caringi (18 de maio de 1905 – 30 de maio de 1981), se tornou símbolo oficial de Porto Alegre em 1992 e é patrimônio histórico da capital.

O artista urbano inaugurou ao final de setembro de 2022 um mural de 24 metros de comprimento por 14 metros de altura (336 metros quadrados) em uma das fachadas da Organização das Nações Unidas, em Nova York. O mural “O Futuro é Agora!” (The Future is Now!) está situado na E 42nd St & 1St Ave.  O mural, que foi notícia em meios de comunicação dos cinco continentes, surgiu em um período importantíssimo, já que de 20 a 26 de setembro aconteceu na ONU a Semana de Alto Nível da 77.ª Assembleia Geral, a primeira totalmente presencial desde o início da epidemia do Covid-19. Sob o tema “Um Momento Divisor De Águas: Soluções Transformadoras Para Desafios Interligados”, representantes de 193 países, a maioria líderes mundiais, discutiram questões como a reconstrução pós-Covid, Guerra na Ucrânia, desenvolvimento sustentável e direitos humanos.

Para Kobra, todos devem se perguntar como é que estamos cuidando do nosso planeta. “O futuro é agora! O futuro já começou e a responsabilidade é de todos nós. Foi por isso que coloquei no mural, que está situado em um local que recebe tantos líderes importantes, um brasileiro comum, que realiza essa ação de entregar o planeta a sua filha. É responsabilidade de todos cuidar da nossa casa, que é o Planeta Terra. E lá no epicentro, coloquei a América Latina, para reforçar a mensagem do cuidado que devemos ter em cuidar e preservar a nossa querida floresta amazônica.”

Pouco antes, em setembro, Kobra realizou em San Marino o impressionante mural de 1.300 metros quadrados, que conta a história e a lenda do país e do Monte Titano, ponto mais alto de San Marino, nos Apeninos, com 749 metros de altitude. O painel foi iluminado e uma passarela construída no local para que as pessoas possam ver de perto a obra situada em Faetano, na fachada da fábrica do grupo SIT, com a vista do Monte Titano ao fundo e as famosas Três Torres. Belíssimo, o mural já se tornou uma atração cultural e turística da região. Além disso, pela primeira vez uma obra de Eduardo Kobra foi eternizada em forma de selo. 

Ao final de agosto, Kobra inaugurou uma obra no muro em frente à fachada do Museu da Imigração, no bairro da Mooca, zona Leste de São Paulo. Com 736 metros quadrados (5,8 m de altura por 127 m de extensão), “Janelas Abertas para o Mundo” mostra oito migrantes e refugiados, de diferentes origens, todos personagens reais retratados pelo artista urbano com as cores que caracterizam sua obra.

Recentemente, em novembro, fez o primeiro mural, com 29 metros de comprimento por 5 metros de altura – cerca de 145m² – de um artista brasileiro no Walt Disney World Resort, como parte do Disney Springs Art Walk: A Canvas of Expression. A obra também mostra crianças de sete lugares do planeta. Também em novembro foi inaugurado na Escola Estadual Lasar Segall, na zona Sul de São Paulo, um mural de Kobra, com sete metros de comprimento por 12 de altura (84 metros quadrados), sobre o heptacampeão de Fórmula 1 Lewis Hamilton. O piloto britânico, que é engajado em causas e projetos sociais, esteve presente a convite do Instituto Ayrton Senna, conversou com as crianças e assistiu à inauguração do mural. Na obra, Hamilton segura um capacete do seu ídolo, Senna. Visivelmente emocionado, Hamilton pediu uma lata de spray e assinou, cheio de estilo, seu nome no mural. “Espero que isso traga motivação e cor para os alunos daqui”, disse. Kobra criou também uma arte exclusiva e pintou um dos capacetes do piloto, que foi disponibilizado através de uma plataforma online e leiloado para colecionadores. A renda será revertida para o Instituto Senna.                     

Hamilton gostou de conhecer também o projeto Instituto Kobra e se ofereceu para contribuir através da venda de uma camisa exclusiva. Kobra desenvolveu uma arte para a camiseta, que ficou à venda online até o final do GP de São Paulo. Toda a renda será revertida para o Instituto Kobra, que busca transformar a vida dos jovens através da arte.

Sobre o muralista

           Eduardo Kobra, 48 anos, tem 3.000 murais, em cerca de 35 países e em diversas cidades e estados brasileiros – como “Etnias – Todos Somos Um”, no Rio de Janeiro, “Oscar Niemeyer”, em São Paulo; “The Times They Are A-Changin” (sobre Bob Dylan), em Minneapolis; “Let me be Myself” (sobre Anne Frank), em Amsterdã; “A Bailarina” (Maya Plisetskaia), em Moscou; “Fight For Street Art” Basquiat e Andy Warhol), em Nova York; e “David”, nas montanhas de Carrara. Em todos os trabalhos, o artista busca democratizar a arte e transformar as ruas, avenidas, estradas e até montanhas em galerias a céu aberto.  Dois desses murais entraram no Guinness Word Record como o “maior mural do mundo”. Primeiro “Etnias – Todos Somos Um”, no Rio de Janeiro, com cerca de 3.000 metros quadrados e, depois, o “Mural do Chocolate”, localizado na rodovia Castelo Branco, em Itapevi, em São Paulo, com 5.742 metros quadrados. Em 2018, pintou 20 murais nos Estados Unidos, 18 deles em Nova York.

Inquieto, estudioso e autodidata, também faz pesquisas com materiais reciclados e novas tecnologias, como a pintura em 3D sobre pavimentos.

           Cada vez mais conhecido, Kobra fica, é claro, orgulhoso quando vê uma multidão que observa um de seus murais, mas costuma dizer que o que o comove de verdade é descobrir alguém que para no meio da correria da cidade para observar, mesmo que por um minuto, os detalhes dessa obra. Apesar dos murais monumentais, Eduardo Kobra faz sua arte para despertar a consciência e a sensibilidade de cada um de nós.

Obras de Kobra com a temática da Pandemia e da Saúde

Em 2021, o artista urbano fez o mural “Seja Luz”, mais uma obra com o tema da pandemia do Covid-19. O mural de 30 m de altura por sete de largura fica na rua Oscar Freire, nos Jardins. Segundo o artista, que no mural pintou “O Pensador”, de Auguste Rodin (1840 a 1917), dentro de uma lâmpada, esse trágico momento de pandemia levou a humanidade a repensar valores. “Cada um precisa refletir sobre que tipo de entrega e atitude deve ter para ser luz na escuridão”, diz o muralista. “Acima de tudo é preciso ser luz na vida de alguém e fazer a diferença. É fundamental, mais que só ficar nas palavras e nas Redes Sociais, ouvir o outro, pensar no outro e fazer o bem”, afirmou.

Em maio do mesmo ano, lançou em São Paulo, na rua Henrique Schaumann, em frente à Igreja do Calvário, o mural “Coexistência – Memorial da Fé por todas as vítimas do Covid-19”, onde retrata crianças de cinco religiões – Islamismo, Budismo, Cristianismo, Judaísmo e Hinduísmo. A obra traz uma mensagem de fé e de esperança, ao mesmo tempo em que lembra as vítimas do Covid-19 e destaca a importância da Ciência, simbolizada pelo fundamental uso de máscaras.

Pouco antes, no início de fevereiro de 2021, na primeira ação do então recém-criado Instituto Kobra, que tem como base a premissa de que a arte é um instrumento de transformação, o artista paulistano transformou um cilindro de oxigênio, em desuso, de 1m30, em uma obra de arte, exemplar único, chamada “Respirar”.  Kobra pintou o cilindro como se fosse um recipiente transparente, com uma árvore plantada dentro. “A mensagem central é a importância da vida. Que o sopro da minha arte ajude a levar um pouco de oxigênio para os hospitais mais necessitados e, ao mesmo tempo, provoque a reflexão sobre a importância de usar máscaras, lavar as mãos constantemente, manter o isolamento social e, claro, de preservar a natureza, que é um patrimônio de toda a humanidade”, disse.

A obra foi adquirida por 700 mil reais. Os recursos obtidos foram aplicados integralmente na construção de duas usinas de oxigênio no Amazonas. Na prática, isso significo 20 leitos de UTI’s beneficiados 24h por dia, numa ação perene, que ficaram como legado. Em um dia, a usina gera 480 horas de oxigênio. Em um mês, são 14.400 horas. “A título de comparação, um cilindro abastece um leito de UTI com oxigênio por até 10 horas. Ou seja, para fazer uma entrega equivalente à usina, seriam necessários mais de 1.400 cilindros por mês. Com 700 mil seria possível comprar 350 cilindros, o que equivaleria a 3.500 horas”, contou o muralista.

No final de fevereiro do mesmo ano, o muralista Kobra doou ao Instituto Butantan e à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) dois painéis (um para cada instituição) de um metro e oitenta por um metro e oitenta, que fez meses antes, inspirado na esperança do desenvolvimento de vacinas para imunizar as pessoas contra o Covid-19.

Em 2022, Kobra presenteou o Hospital das Clínicas, em São Paulo, com o mural Metamorfoses, entregue em 14 de junho, Dia Mundial do Doador de Sangue. O novo mural ocupa uma imensa parede que começa no Espaço de Convivência, no primeiro andar do Prédio dos Ambulatórios do Hospital das Clínicas de São Paulo (onde está situada a Hematologia e a Fundação Pró-Sangue, maior banco de sangue da América Latina, com 10 mil doadores por mês) e se estende até o 8º e último andar. Antes, em janeiro do mesmo ano, Kobra inaugurou no Hospital das Clínicas, à rua Dr. Eneias de Carvalho Aguiar, 255, mural “Ciência e Fé”. Na obra, com as cores que caracterizam boa parte de suas obras, mostra as mãos de um médico, com o jaleco e o estetoscópio, em posição de oração. “A obra mostra que Ciência e Fé caminham lado a lado. Cada uma nos fornece algo que não se pode obter a partir da outra. Acredito demais na Ciência e na Medicina e agradeço aos médicos, enfermeiros e demais profissionais da Saúde que colocam suas vidas à nossa disposição. Eu e a maioria dos brasileiros também colocamos nossa fé em ação e o coração em Deus, para que ele abençoe nossas vidas e as vidas das pessoas que amamos e também a Ciência, para que ela encontre a cura. Não existe essa contradição, que tentam criar, entre Ciência e Fé. Não há por que acreditar só em uma ou na outra”, afirmou.

Em outubro, Kobra fez seu primeiro mural em Niterói. Em uma parede de 100 metros quadrados da Clínica Oncomed Oncologia, o mural “Vitória” mostra uma mulher com o braço erguido, como quem festeja ter vencido a luta contra o câncer.  “É uma clínica especializada em radioterapia. Antes de fazer o trabalho, acompanhei pessoas que fazem tratamento intensivo. É um ambiente de esperança e fé. Achei que essa era uma imagem impactante para motivar as pessoas a seguirem com a esperança na cura”, revela o muralista, que acrescenta: “na camisa dela podemos ver pequenos laços relacionados a muitos tipos de câncer e outras enfermidades difíceis, que também são cuidadas com dedicação e amor pela equipe que conheci na clínica, assim como médicos, enfermeiros e demais profissionais da Saúde ao redor do Brasil e do mundo”.

Instituto Kobra: a arte como instrumento de transformação social

 Nascido em 2021, o Instituto Kobra, acredita na arte como instrumento de transformação social de crianças, adolescentes, jovens e mesmo adultos.  Fundada e presidida pelo artista Eduardo Kobra, a instituição parte da própria biografia de seu criador para fundamentar a importância e o papel da cultura como agente transformador de vidas e realidades.

O Instituto Kobra promove ações, prioritariamente em comunidades periféricas, e leva manifestações artísticas — não só das artes plásticas e do grafite, mas também da música, do teatro e da literatura — àqueles que costumam ter menos acesso a museus e centros culturais.

 Uma experiência embrionária foi o projeto Galeria Circular, em 2019. Transformado em galeria itinerante de arte, um ônibus adaptado percorreu 12 bairros da região metropolitana de São Paulo apresentando 14 obras de Kobra que estiveram ou ainda estão expostas em diversos locais pelo mundo. O artista idealizou e participou de todos os dias do projeto.

O Instituto Kobra surgiu também para funcionar como um espaço para promoção de causas por meio da arte — principalmente aquelas que fazem parte dos princípios do muralista, como a defesa do meio ambiente, o discurso pacifista, a pauta antirracista, o respeito entre os povos e a luta pela liberdade.

Neste sentido, devido ao combate à pandemia do Covid-19, a primeira ação concreta da instituição foi usar sua arte para levar oxigênio para hospitais de Manaus.  Kobra – como já destacado no tópico “Obras com a temática da Pandemia e da Saúde”, mas que repetimos aqui – transformou um cilindro de oxigênio, em desuso, de 1m30, em uma obra de arte, exemplar único, chamada “Respirar”.  Pintou o cilindro como se fosse um recipiente transparente, com uma árvore plantada dentro. A obra foi adquirida por 700 mil reais. Os recursos obtidos com a venda da peça foram aplicados integralmente na construção de duas usinas de oxigênio no Amazonas. Na prática, isso significou 20 leitos de UTI’s beneficiados 24h por dia, numa ação perene, que ficaram como legado. Em um dia, a usina gera 480 horas de oxigênio. Em um mês, são 14.400 horas. “A título de comparação, um cilindro abastece um leito de UTI com oxigênio por até 10 horas. Ou seja, para fazer uma entrega equivalente à usina, seriam necessários mais de 1.400 cilindros por mês.”, contou o muralista.

Em outra ação, Kobra utilizou seu talento para uma campanha que ajudava famílias desassistidas, com situação de vulnerabilidade ainda mais agravada pela pandemia do covid-19. Após Kobra criar o painel Coexistência, onde mostrava crianças de cinco religiões – budismo, cristianismo, islamismo judaísmo e hinduísmo – em oração e vestindo máscaras, o Instituto Kobra sorteou uma serigrafia da obra entre as pessoas que fizeram doações. Com o valor arrecadado, R$ 450 mil, foram produzidos e distribuídos 20 mil kits com alimentos e produtos básicos de higiene.

Mas o Instituto Kobra não se resumirá a ações desse tipo. No projeto estão previstas a construção de uma sede e outras maneiras de promover a cultura, como palestras, oficinas e a realização de pinturas públicas.

Além do próprio Eduardo Kobra, a entidade viabilizará a presença de outros muralistas e grafiteiros, brasileiros e estrangeiros, que, por meio de intercâmbios culturais, irão levar sua arte, seu conhecimento e suas histórias de vida aos brasileiros.

A sensibilidade do muralista para o tema vem do berço. Kobra nasceu em 1975, no Jardim Martinica, Campo Limpo, bairro da zona sul paulistana. Da mesma maneira como a arte mudou sua vida, ele acredita que a cultura pode ser uma ferramenta de transformação social para muitos brasileiros, especialmente os jovens.

“Kobra Auto Retrato” – o filme

            Foi lançando em novembro no Brasil e nos Estados Unidos, o documentário “Kobra – Auto Retrato” (84 minutos, colorido, 2022), longa da premiada diretora e roteirista Lina Chamie, com fotografia de Lauro Escorel e produção da Girafa Filmes. No filme, em uma noite de insônia, há cerca de 20 anos um tortuoso fato cotidiano, Kobra revê sua vida desde a infância difícil na periferia até o sucesso mundial como muralista. Os acontecimentos se desenrolam entre a realidade e o sonho. Nessa trajetória de vida, desde o grafite ilegal nas ruas de São Paulo até os grandes murais em mais de 30 países, Kobra, um artista singular que representa tantos outros em suas batalhas, passa a entender a arte de rua como voz política democrática e poderosa.

“São as portas que arte abre, as possibilidades que são infinitas, que somente Deus e o mundo da arte podem possibilitar. É mais uma vitória, dentro de algo completamente inusitado, que é ter a minha história contada por uma cineasta tão especial, por uma visão completamente única e artística. Sinto-me lisonjeado, até mesmo por ser um grande admirador do cinema, especialmente de filmes e documentários que falam sobre a história de muitos artistas, como Frida Kahlo, Jackson Pollock e Banksy, que concorreu ao Oscar. “Traços de uma vida”, sobre Jean-Michel Basquiat, inspirou-me demais. O filme feito pela Lina Chamie, que mostra toda minha trajetória até o período anterior à pandemia, é um novo e importante passo na minha história, porque é mais uma forma diferente do meu trabalho e mensagens chegarem às pessoas”, afirma Kobra.

Segundo o muralista, a produção do filme durou cerca de dois anos e as filmagens com ele cerca de 30 dias, não contínuos. “A Lina foi delicada na abordagem e na forma como contou a minha história. Eu já havia assistido a um dos seus filmes, ‘São Silvestre’, e ficado impactado com o seu olhar diferenciado com a forma como ela trata a imagem, o movimento e o som. Quando fui procurado para o filme, percebi que não se trataria só de ‘mais um filme’, já que suas produções são especiais, emocionais e sensoriais. Sempre tive a certeza de que a Lina era a pessoa certa para contar a minha história”, diz Kobra.