CURITIBA NÉ
Dois homens na faixa dos trinta anos num desses quiosques de café da XV.
– E esse frio ein.
– Porra, nem me fale, olhei, vi o sol, pensei, vou sair só de camiseta, de boa, sai congelou o meu mamilo.
– Também o sol de Curitiba parece lâmpada de geladeira, só serve pra iluminar.
– Ai quando tem aquele sol que esquenta os loco saem na bicuda pra ver quem fica no sol.
– Verdade. Curitiba né.
– E o transito?
– Minha nossa, ta cada vez maior, já pegou visconde seis horas da tarde?
– Pelo amor de Deus, paulista se sente em casa.
– Cê fica tanto tempo parado na linha verde que chega a ficar madura.
– Verdade.
– Curitiba né.
– E pra conseguir embicar.
– Minha nossa.
– Mah nenhum lazarento da vaga.
– Hum, eles olham pra frente e fingem que nem estão ouvindo.
– Erguem o som e olham para frente como se tivessem vendo um miragem.
– Um dia tinha que buscar meu pia na escola, tava saindo da garagem ali na rápida que vai pro Barigui, demorei tanto pra conseguir sair que quando cheguei o pia já tava se formando na faculdade.
– Curitiba né.
Um terceiro cara está no café, ouvindo a conversa, tenta entrosar.
– E pra dar informação, parece que você ta pedindo o anus.
– Capaz, Curitibano da informação sim.
– Mas da errado que é pra você largar a mão de ser besta e se informar direito antes de sair de casa.
– Curitiba né.
Os três caem na gargalhada.
– Onde você ta morando mesmo?
– Do Bigorrilho e você?
– Água verde.
Os dois perguntam para o terceiro homem.
– E você?
– Eu não sou daqui não. Sou do Espirito Santo.
Os dois homens se olham, fecham a cara, levantam-se, pagam a conta e vão embora do café.
O capixaba fica olhando sem entender, olha para o caixa que olha fixamente para frente e finge que não tem ninguém na cafeteria.
Moral da história: Curitiba é como filho, só Curitibano pode falar mal.
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