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Cartilha ensina etiqueta inclusiva para interação com as pessoas com deficiência


A falta de habilidade em lidar com o “diferente” pode fazer com que as pessoas, sem querer, excluam do convívio social ou causem constrangimentos a quem possui algum tipo de deficiência. Para romper essa barreira, o Departamento dos Direitos da Pessoa Com Deficiência (DPCD) da Prefeitura oferece a publicação Direitos da Pessoa Com Deficiência: Informação Para Uma Cidade Mais Inclusiva. O material está disponível na internet, para quem quiser se informar.

A “etiqueta social” no relacionamento com pessoas com deficiência abre a cartilha, que também informa sobre os serviços oferecidos pelo DPCD e a legislação em vigor para o segmento. Depois de definir o que é cada tipo de deficiência, aparecem as dicas sobre como proceder para ser um cidadão inclusivo.

“A diferença existe e faz parte da diversidade humana. Nosso papel e acolhê-la e combater o capacitismo”, observa o coordenador de Empregabilidade no DPCD, Adriano Laurindo, referindo-se ao preconceito contra esse público. Isso abrange desde atitudes discriminatórias até a falta de acessibilidade e recursos de inclusão.

A pessoa é maior que a deficiência

Para o analista jurídico do Grupo Boticário Roni Éder Carmo, o esclarecimento trazido pela cartilha pode ajudar a romper o que ele chama de “algo enraizado” na sociedade: resumir a pessoa à deficiência.

“Tem gente que, em vez de conviver normalmente, ainda foca a deficiência e o assunto vira só isso. É muito chato porque eu tenho autonomia, então, corto logo a conversa”, diz Roni. Ele tem 35 anos e se locomove com a ajuda de uma cadeira de rodas há 12, desde que sofreu um acidente.

Isso não impede Roni de trabalhar e praticar musculação e canoagem, além de sair à noite. “As pessoas se espantam por me verem dançando, quando o estranho é não haver mais pessoas como eu nos lugares por onde eu circulo”, observa, referindo-se à invisibilidade que alimenta o preconceito.

Respeito antes de tudo

A regra elementar em todas as situações, orienta a publicação, é o respeito às características de cada tipo de deficiência e as adaptações que elas exigem. Assim, a ajuda para alguma ação corriqueira só é bem-vinda se a pessoa quiser recebê-la. Por isso, é necessário consultá-la antes, sempre com naturalidade e discrição.

No caso de espaços de entretenimento e eventos, como os locais frequentados por Roni, é imprescindível que os responsáveis se certifiquem de que cada ambiente (como entrada e banheiros) garanta a completa acessibilidade para todos os públicos. Isso inclui rampas e portas largas, material em braile, letras ampliadas ou audiodescrição, alertas visuais e intérpretes de sinais. Para atender às pessoas cegas, também é necessário prever a presença de cão-guia.

Respeitando a pessoa e sua deficiência

DEFICIÊNCIA FÍSICA: cadeira de rodas, muletas, andador

  • Nunca se deve apoiar na cadeira de rodas, que é uma extensão do corpo de quem a usa, mas não há problema usar as expressões “ande”, “corra” e “caminhe”. “As próprias pessoas com deficiência usam essas expressões”, revela Adriano Laurindo.
  • No caso de conversa mais demorada, o correto é sentar-se para que pessoa com deficiência e interlocutor se olhem no mesmo nível. E mesmo que esteja com acompanhante, dirija-se a ela – a menos que a conversa seja de interesse exclusivo da terceira pessoa. As muletas devem ficar ao alcance do seu usuário, respeitando sua autonomia.
  • Durante deslocamentos, é importante andar na mesma velocidade da pessoa sobre cadeira de rodas ou do ritmo da marcha de quem usa muletas. Em ambos os casos, mantenha distância suficiente para não esbarrar em uma ou outra.

DEFICIÊNCIA VISUAL

  • Também é importante identificar-se ao se aproximar de uma pessoa cega desacompanhada e jamais deixar portas entreabertas: ou elas estarão totalmente abertas ou totalmente fechadas.
  • Os corredores devem estar livres de obstáculos e, no caso de mudança na decoração dos ambientes, é necessário avisar sobre as alterações feitas e prevenir acidentes.
  • Ao andar com uma pessoa cega, o interlocutor deve permitir que ela segure seu braço. Orientada pelo movimento do seu corpo da outra pessoa, a cega saberá que atitude tomar.
  • No entanto, se os ambientes forem estreitos, será necessário posicionar um braço para trás. Assim, ela poderá segui-lo. E ao aproximarem-se de obstáculos, deve-se diminuir a velocidade e passar longe deles.
  • À mesa, é educado perguntar se sua ajuda é necessária (para cortar alimentos ou adoçar o café) e explicar a posição dos alimentos no prato. No restaurante, se a pessoa cega quiser, deve-se ler o cardápio e os preços para ela.
  • Caso seja desejada ajuda para atravessar uma rua, a travessia deve ser feita em linha reta. Assim, a pessoa cega manterá o senso de orientação. Para que ela se sente em cadeiras ou poltronas, basta colocar o braço dela no braço ou encosto do móvel. Ela saberá o que fazer.
  • Caso haja algo errado com a aparência da pessoa cega, é importante informá-la que algo está em desalinho – como meias trocadas e botões abertos – e ser preciso quanto as orientações. Para trajetos, use as palavras “direita, esquerda”, “acima”, “abaixo”, “para frente” e “para trás” e jamais termos vagos – como “lá” ou “ali”. As distâncias devem ser expressas em metros, como “há um degrau a uns 10 metros de distância”.
  • No transporte coletivo, o transeunte deve indicar as barras de apoio junto às portas do ônibus para o embarque seguro. Já quando a pessoa cega estiver em local desconhecido, quem estiver ao lado deve descrever a distribuição de móveis e obstáculos.
  • Em festas, a pessoa cega deve ser informada sobre quem está presente, para que ela possa interagir. E se for o caso de apresentá-la a alguém, é necessário posicioná-la de frente para o interlocutor.
  • Não há risco de ferir suscetibilidades com o uso de palavras como “veja”, “olhe” e “cego”.  Quando precisar se afastar, avise, para que ela não fique falando sozinha.

DEFICIÊNCIA AUDITIVA

  • Antes de começar a falar com uma pessoa surda, é necessário sinalizar com a mão ou tocar seu braço e ficar de frente para ela. A fala deve ser na cadência normal – a menos que ela peça ao interlocutor para que fale mais devagar – e sem elevar o volume da voz. Caso não se entenda o que a pessoa surda está dizendo, a solução é pedir para ela repetir ou escrever o que quer comunicar.
  • Se estiver presente um intérprete da língua de sinais, deve-se falar olhando para a pessoa surda. E um detalhe importante: jamais passar entre duas pessoas que conversam por sinais, o que atrapalha o entendimento do que uma diz à outra.

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

  • Diante de alguém com déficit cognitivo, o caminho, mais uma vez, é agir como se estivesse diante de qualquer pessoa. É importante tratá-lo de acordo com a faixa etária, sem infantilizá-lo, cumprimentá-lo ao chegar e sair e inclui-lo na conversação.
  • A comunicação com a pessoa com deficiência intelectual deve se dar por meio de linguagem simples e exemplos concretos, e jamais com o intuito de superprotegê-la. Aqui também a ajuda é bem-vinda apenas quando necessário, dando espaço para a sua autonomia e o seu tempo de aprendizagem – que acontece mais lentamente, com o desenvolvimento de habilidades.

TEA/AUTISMO

  • Pessoas com Transtorno do Espectro Autista têm um modo característico de perceber o mundo, o que deve ser respeitado. Para isso, adaptações devem ser observadas.
  • É o caso das que são mais sensíveis a estímulos sonoros e luminosos e ao toque. Para diminuir o impacto desses fatores sobre elas, é importante reduzir a incidência da luz e o volume do barulho no ambiente e não tocar a pessoa sem que ela consinta.
  • Escolher outras formas de comunicação além da verbal – usando objetos e desenhos, entre outras técnicas pedagógicas – pode ser útil na inclusão da pessoa com autismo.
  • As que desenvolvem apego à rotina devem ser preparadas, antecipadamente, para vivenciar situações diferentes sem sofrimento. 



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