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Aumento no número de idosos exige novas políticas públicas de suporte à longevidade – De olho nos deputados


O rápido envelhecimento da população exige um novo olhar para as cidades, a sociedade e para políticas públicas voltadas aos idosos. Se hoje essa discussão é destinada a 1,2 milhão de pessoas no Paraná, no futuro beneficiará a todos que chegarem à terceira idade. E não serão poucos: de 11,3% da população atual, para uma previsão de 30% dos paranaenses em 2050, representando 3 milhões de habitantes com mais de 65 anos.

Do cuidado com as calçadas ao impacto no sistema de saúde, a audiência pública “Longevidade e Desafios para as Políticas Públicas”, realizada na Assembleia Legislativa do Paraná nesta quinta-feira (16), evidenciou a necessidade de ampliar a percepção em relação ao idoso e, especialmente, de incluí-lo no orçamento municipal, estadual e federal.

“Aumentou muito o número de pessoas que vivem mais e todo mundo quer viver mais, porque a outra opção todo mundo sabe qual é”, disse a proponente do encontro, deputada Márcia Huçulak (PSD). Líder do bloco da saúde, a parlamentar defendeu a necessidade de preparar as cidades e desenvolver políticas públicas para esse momento, em que o perfil da população mudou.

“Hoje grande parte das pessoas idosas não têm oportunidade do lazer, do convívio. Isso gera o isolamento e faz com que as pessoas tenham mais problemas de saúde, que vão demandar o sistema de saúde e a previdência social. Temos vários impactos e precisamos garantir bem-estar, qualidade nos vários serviços e dignidade para este nicho da população, o que exige ajustes nas políticas públicas já existentes e também novas políticas”, destacou a deputada.

Aumento

Os números confirmam a necessidade de planejamento. O amplo crescimento da população idosa tem sido comprovado a cada censo demográfico, conforme citou o presidente do instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), José Augusto Callado Afonso.

“Por isso as políticas públicas devem estar voltadas para a inserção dessas pessoas na sociedade, não só em forma de trabalho, como em forma de assistência à saúde, entre outras atividades. Então, é bastante oportuna essa audiência para criação de indicadores quanto à efetividade dessas ações”, afirmou Afonso.

O cenário exige ainda mais atenção no Paraná, conforme explanou o diretor de pesquisa do Ipardes, Julio Takeshi Suzuki Jr. “Notamos uma mudança muito rápida na pirâmide etária, evidenciando o rápido envelhecimento da população. Nossa estrutura etária é ainda mais envelhecia que no restante do país, o que mostra que precisamos implantar a ações mais precocemente no Paraná”, alertou. “Para se ter uma ideia, em 2000 nenhum município paranaense tinha população de idosos superior a 20%. Em 2022, já eram 134 munícipios com essa proporção”, acrescentou. Atualmente apenas Itaperuçu e Fazenda Rio Grande têm uma proporção de idosos até 10%.

De acordo com o mais recente Censo do IBGE (2022), o número de pessoas com 65 anos ou mais chegou a 10,9% da população no Brasil – ou 22,2 milhões de um total de 203,1 milhões de pessoas. É o maior porcentual desde que o Censo começou a ser feito, em 1872, e um crescimento de 57,4% em relação ao levantamento de 2010. No Paraná, são 1,2 milhão de pessoas – ou 11,3% em uma população total de 11,4 milhões.

Futuro de todos

Se hoje ainda é distante de boa parte da população, a terceira idade merece um olhar cada vez mais precoce. “Faz uma diferença muito grande entender bem como que é essa população, porque é isso que vai ser a sociedade. O envelhecimento é o futuro de todos nós”, disse o presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia-PR, Marcos Cabrera.

Para ele, a velocidade com que a sociedade está se transforando exige também uma mudança na percepção da velhice. “A academia começou a estudar o envelhecimento de outra forma, criando um olhar sobre o envelhecimento ativo. Os problemas dos idosos são facilmente percebidos, mas a ciência está mostrando vantagens. Não apenas um ônus, mas um bônus. É uma grande parcela da população com padrão de sensibilidade e afetividade diferenciado. Ganhamos a resiliência de presente junto com as nossas rugas. O idoso pode ser protagonista, um cidadão”, acrescentou.

A coordenadora de pessoa idosa da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, Ivete Berkembrock, lembrou que a velhice é a fase mais longa da vida. “São necessários recursos públicos para investir no cuidado da pessoa idosa e no cuidado prolongado porque as pessoas estão vivendo mais. E, mudar a forma como pensamos e agimos em relação ao envelhecimento e isso é o combate ao heterismo, que ainda considera o idoso um estorvo para a sociedade e para as políticas públicas,

Moradias e urbanismo inclusivo

A mudança no perfil etário impacta também no planejamento das cidades. As políticas públicas nos anos 80 eram voltadas para uma taxa de crescimento com muitas criança e adolescentes. “As cidades se prepararam para este público, com ações quantitativas. Em 2022, a nova pirâmide mudou a forma de planejamento, com o envelhecimento motivando ações qualitativas”, afirmou a diretora de projetos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Célia Regina Bim.

Ela salientou que o objetivo é trabalhar qualidade de vida do idoso, com autonomia, cidadania convívio e integração geracional, através do cuidado com a cidade, renovação de pavimento, iluminação para garantir mais segurança, especialmente no centro na capital, onde residem muitos idosos.

Coordenadora de políticas para pessoa idosa da secretaria de Estado da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa, Larissa Marsolik, representou a secretária Leandre Dal Ponte. Ela citou o aumento de 57% no número de idosos nos últimos 12 anos, exigindo uma política de cuidado para proteger e promover direitos da pessoa idosa e também de suas famílias e cuidadores.

“A pauta do envelhecimento é uma pauta transversal que perpassa as políticas públicas dos nossos municípios. E hoje somos 33 municípios certificado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como cidade amiga das pessoas idosas”, citou.

Para definir as melhores estratégias, o presidente do Conselho Estadual da Pessoa Idosos, Jorge Ney Neves, defendeu a necessidade de se ouvir o público alvo. “As pessoas idosas que vão nos dizer quais políticas públicas precisam ser efetivadas, o que ela identifica em cada área. E não tem como pensar nisso sem recursos, por isso a pessoa idosa precisar estar contemplada no orçamento, seja municipal, estadual e federal”, apontou.

Uma das sugestões foi a criação de centros-dia. “Garantem um cuidado interdisciplinar e integral, mas sem o rompimento o vínculo familiar. Precisamos de formas alternativas ao asilamento”.

O superintende da Secretaria Municipal de Saúde, Juliano Gevaerd, lembrou que o debate trata de ações que beneficiarão a todos. Entre as ações da pasta, ele citou o curso de cuidadores de idosos, serviço de atendimento domiciliar e a acessibilidade nas unidades de saúde.



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