Uma pesquisa de abrangência nacional sobre mortalidade por covid-19 e características das casas de saúde nas quais os óbitos aconteceram foi realizada recentemente com a participação da Universidade do Vale do Taquari – Univates.
Participaram do estudo a professora doutora Claudete Rempel e a, na época, estudante do curso de Medicina Liege Barella Zandoná. A pesquisa também teve envolvimento do ex-professor Luis Cesar de Castro e do médico diplomado pela Univates Yuri Carlotto Ramires. A investigação foi publicada no periódico Internal and Emergency Medicine.
Estiveram envolvidos com o trabalho 87 pesquisadores, de 37 instituições de ensino e pesquisa em saúde, que analisaram 6.556 internações para covid-19 durante o período do estudo.
No estudo, foi investigado se as características socioeconômicas regionais, gerais e hospitalares da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) estavam associadas à mortalidade em um estudo multicêntrico brasileiro de pacientes com covid-19i. Foram analisados 31 hospitais de 16 cidades brasileiras em quatro Estados.
A mortalidade intra-hospitalar variou significativamente entre os hospitais brasileiros. Em hospitais privados localizados em cidades com alto Produto Interno Bruto (PIB) per capita foi registrada menor mortalidade. Na UTI, as equipes médicas de cuidados intensivos mais experientes que atendem pacientes com covid-19 foram associadas à menor mortalidade.
Estes hospitais receberam pacientes com covid-19 de 370 municípios de 12 Estados diferentes. Os pesquisadores concluíram que a mortalidade variou significativamente entre as instituições, variando de 9% a 48%. Na análise das características da UTI, hospitais com equipe intensiva menos experiente apresentaram maior mortalidade.
“A pandemia de covid-19 causou um grande impacto na sociedade atual por ter sido uma situação nunca antes vivenciada no século XXI. Acredito que todas as pesquisas realizadas desde o início da pandemia até o momento são de grande valia para possibilitar verificar se as condutas tomadas empiricamente na época foram corretas e, com isso, minimizar os danos que podem ser causados por um novo episódio semelhante”, descreve Liege.
“Além disso, com tantas pesquisas acontecendo simultaneamente, é possível analisar os danos causados à saúde da população que já foi contaminada pelo vírus e, com isso, tentar evitar que novas pessoas sejam contaminadas ou que, caso sejam acometidas, tenham poucos sintomas”. A jovem acredita que os resultados obtidos na pesquisa podem ajudar os órgãos governamentais responsáveis a distribuir melhor os recursos financeiros aos serviços de saúde e também mostrar a importância da melhor capacitação dos profissionais que atuam nessa área.
“É possível perceber que os hospitais que registraram menor mortalidade foram os que tinham mais recursos, tanto financeiros quanto de equipes experientes. Infelizmente, no momento da pandemia, foi necessário aumentar o quadro de funcionários, os quais nem sempre eram qualificados para esse tipo de situação emergencial. Compreende-se com isso a necessidade de capacitar melhor os profissionais”, explica Liege.
Compreendendo a pesquisa
A pesquisa analisou características regionais socioeconômicas, hospitalares e de unidades de terapia intensiva associadas à mortalidade hospitalar de pacientes com covid-19 internados em instituições brasileiras.
Foram coletados dados de pacientes com covid-19 confirmado laboratorialmente internados nos hospitais participantes da pesquisa de março a setembro de 2020. Os dados dos pacientes foram obtidos por meio de registros hospitalares.As informações dos hospitais foram coletadas por meio de formulários preenchidos in loco e de bases de dados nacionais abertas.
Os pesquisadores construíram dois modelos: um testou as características gerais do hospital e o outro testou as características da UTI. Todas as análises foram ajustadas para a proporção de pacientes de alto risco na admissão hospitalar.
Dados
Os hospitais analisados tiveram 6.556 internações para covid-19 durante o período do estudo. A mortalidade intra-hospitalar estimada variou de 9% a 48%. O primeiro modelo incluiu todos os 31 hospitais e mostrou que uma fonte privada de financiamento e localização em áreas com alto Produto Interno Bruto per capita foram independentemente associadas a uma menor mortalidade.
O segundo modelo incluiu 23 hospitais e mostrou que hospitais com turno de trabalho em UTI composto por mais de 50% de profissionais intensivistas registraram menor mortalidade, enquanto hospitais com maior proporção de profissionais médicos menos experientes tiveram maior mortalidade.
O impacto dessas associações aumentou de acordo com a proporção de pacientes de alto risco na admissão. A mortalidade intra-hospitalar variou significativamente entre os hospitais brasileiros. Ao analisar as características específicas da UTI, hospitais com equipes de UTI mais experientes tiveram mortalidade reduzida.
Implicações
Como a pandemia continua a se espalhar pelo mundo devido ao surgimento de novas variantes preocupantes e à baixa cobertura vacinal em razão da hesitação em vários países, é fundamental continuar a investigação de fatores que possam ajudar a reduzir a mortalidade.
Como este estudo mostrou que a experiência profissional da equipe médica estava associada à menor mortalidade, investir em treinamento e supervisão sênior da equipe médica poderia melhorar os resultados em situações de emergência, como a pandemia de covid-19.
Diferentes estratégias de treinamento e organização podem ser empregadas, como a supervisão da equipe sênior, o uso de simuladores para treinamento e a implementação de tele-estratégias na UTI, o uso de listas de verificação diárias e rodadas multidisciplinares.
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