A importância do diagnóstico precoce e as dificuldades pelas quais passam os pacientes com doenças renais, principalmente os crônicos, foram questões abordadas por especialistas durante a audiência pública “A saúde dos rins – prevenção, diagnóstico e tratamento”, que aconteceu na manhã desta terça-feira (30), na Assembleia Legislativa do Paraná. Segundo os nefrologistas, a demanda de diálise cresce anualmente, mas a rede de atendimento não acompanha esse aumento na mesma proporção, principalmente nas regiões mais distantes e menos favorecidas.
“No Paraná, temos 8.647 doentes renais crônicos fazendo tratamento. E, cerca de 1,2 milhão de paranaenses devem ter alguma doença renal sem diagnóstico”, alertou o médico Ricardo Akel, vice-presidente da regional da Paraná da Associação Brasileira de Centros de Diálise e Transplante (ABCDT). “Essa não é uma doença rara, é frequente. É a sétima causa de morte no país e no mundo”, acrescentou. Projeções indicam que até 2030 as doenças renais devem corresponder à quinta causa mundial de óbitos. Akel chamou a atenção também sobre a importância de melhorar a prevenção e ampliar a rede de serviços, bem como, a remuneração pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje, em torno de 76% dos tratamentos são custeados pelo SUS.
De acordo com a deputada Cristina Silvestri (PSDB), que organizou o debate, o tema é de grande importância e exige soluções. “A doença renal é assintomática. Quando os sintomas aparecem, o quadro pode ser irreversível, com a necessidade de procedimentos como hemodiálise e transplante renal. Por isso, o debate em torno da prevenção e do diagnóstico precoce é tão urgente”, alertou. Mesmo entendimento defendido, durante a audiência pública, pelos deputados Tercílio Turini (MDB), presidente da Comissão de Saúde; Márcia Huçulak (PSD), líder do Bloco da Saúde Pública; e Luiz Claudio Romanelli (PSD). “Esse é um relevante debate sobre a saúde dos paranaenses”, observou Márcia Huçulak.
Crise humanitária
Para os nefrologistas e demais participantes da audiência pública, que lotaram o Auditório Legislativo, vivemos hoje uma crise humanitária da diálise no Brasil. Em muitas regiões não há atendimento especializado, realidade que já começa a preocupar o Paraná. Por isso, consideram fundamental a discussão sobre o cofinanciamento da terapia renal. Os especialistas deixaram claro, em suas participações no debate, que quando a função renal está bastante comprometida, faz-se necessário o uso de um método que substitui o trabalho dos rins. A diálise, processo que remove as substâncias nocivas do sangue, é uma das formas de tratamento. E, a falta de equipamento e insumos põe em xeque a vida de pacientes com doença renal crônica. Na sequência, a solução é o transplante.
“Muitos pacientes morrem antes de chegar à diálise ou passar por um transplante”, garantiu o médico José Moura Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), que participou de forma remota da reunião. Na opinião dele, a prevenção e o diagnóstico precoce são fundamentais. Moura Neto observou que exames simples e baratos, como de urina (identificando a presença de proteína) e o de creatinina, são essenciais para o tratamento num estágio inicial da doença. Conforme o especialista, a crise humanitária que atinge os pacientes em diálise é injusta e cruel. “Injusta porque afeta pacientes vulneráveis que dependem do SUS e de tratamento para sobreviver”, assinalou.
“É uma doença silenciosa que precisa ser investigada”, disse o médico Paulo Henrique Fraxino, presidente da Sociedade Paranaense de Nefrologia (SPN), que, igualmente, fez um relato sobre o panorama do setor. Ele reiterou que por ser uma doença que não apresenta sintomas, temos registros de crescente prevalência, alta mortalidade e elevados custos para os sistemas de saúde no mundo. Lembrou que os rins são fundamentais no funcionamento do corpo, filtram o sangue e auxiliam na eliminação de toxinas do organismo: “A prevenção deve começar na rede de atendimento básica”. Também para Fraxino, a popularização do exame de creatinina representa um grande avanço. A creatinina é mensurada com o objetivo de avaliar a função e a performance dos rins, permitindo que seja detectada uma série de condições médicas, como insuficiência renal e infecção nos rins, ainda nos seus estágios iniciais de desenvolvimento, bem como alterações no funcionamento do organismo. É um exame simples (feito a partir de uma coleta de sangue comum), relativamente barato e que traz informações muito importantes.
“O número de clínicas não está aumentando no país”, afirmou a diretora médica da diálise peritoneal do Grupo do Instituto do Rim do Paraná (GIRPR), Laura Neme, que falou sobre os desafios dos tratamentos. Ela explicou as diferenças entre os tratamentos: a hemodiálise consiste em manter o paciente sentado por horas ligado à máquina para purificar o sangue (muitas vezes por 4 horas). Na diálise peritoneal há uma conexão por um cateter implantado no abdômen. Diferença considerada relevante pela especialista. Isto porque o procedimento pode ser feito em casa, à noite, enquanto o paciente dorme, sendo necessário manter o equipamento ligado na tomada e a uma pia, por exemplo. Já os benefícios da telemedicina e da telerregulação foram aspectos abordado pelo vice-presidente da SPN, o médico René Santos Neto. “Durante a pandemia da Covid vimos que esse procedimento (da telemedicina) foi fundamental para mitigar os efeitos e orientar sobre os cuidados médicos”. “Ela democratiza o atendimento, especialmente, aos pacientes que estejam em áreas remotas”, sublinhou.
Prevenção
Medidas simples, como, prevenir o desenvolvimento da hipertensão arterial e controlar a diabetes, doenças que mais levam à insuficiência renal, podem evitar essa doença, informaram os especialistas. Dessa forma, é importante conhecer o histórico de doenças da sua família; controlar os níveis de pressão; realizar avaliação médica anual, principalmente após os quarenta anos; seguir uma dieta equilibrada, com baixa ingestão de sal e de açúcar; controlar o peso; exercitar-se regularmente; não fumar; monitorar seus níveis de colesterol; e evitar o uso de medicamentos sem orientação médica. O conteúdo da audiência pública, transmitida ao vivo pela TV Assembleia e redes sociais oficiais, está disponível no canal oficial do YouTube da Assembleia. É só clicar no link: https://www.youtube.com/watch?v=wbjt8khEzsI
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