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DNA das armas: Paraná vira referência nacional com 634 compatibilidades balísticas


O Paraná é referência no uso do Sistema Nacional de Análise Balística (Sinab), coordenado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, para combinar projéteis e estojos coletados em cenas de crime com armas de fogo. Desde 2022, a Seção de Balística Forense da Polícia Científica do Paraná (PCP) registrou 634 “matches” (compatibilidades), o 2º melhor resultado do País, atrás apenas do Rio Grande do Norte, com 845. O Estado é também o 4º que mais realiza inserções no sistema.

O Sinab é uma ferramenta que visa identificar armas de fogo usadas em crimes, por meio da análise de características balísticas deixadas nos projéteis e estojos disparados. Ele funciona como uma espécie de “impressão digital” das armas, utilizando as marcas deixadas nas balas e cartuchos quando são disparados. O Paraná já fez a inserção de quase cinco mil amostras, atrás apenas do Rio Grande do Sul (10,3 mil), Minas Gerais (8,2 mil) e Espírito Santo (5,7 mil).

Os matches feitos pela PCP têm sido essenciais na resolução de casos de grande repercussão. É o caso, por exemplo, da tentativa de assalto a uma transportadora de valores em Guarapuava, no Centro-Sul do Estado, em 2022. Graças ao trabalho dos peritos e dos dados do Sinab, foram encontradas conexões com crimes em outros estados, como Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Pará. Sete pessoas foram condenadas.

Outro destaque foi o envolvimento de duas pistolas relacionadas com 15 inquéritos. Uma apreensão feita pelo Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), da PCPR, foi encaminhada para a Seção de Balística Forense com o pedido para confrontar as armas com um homicídio. A surpresa, porém, foi de que as armas não tinham relação com o caso em que foi solicitado, mas combinavam com outros inquéritos referentes a cinco homicídios.

“Colocamos uma amostra de cada arma apreendida no Banco Nacional de Perfis Balísticos, onde são feitas comparações com imagens de outros vestígios e de padrões coletados de armas de fogo de todo o País, oferecendo uma lista com as melhores possibilidades de match. Após análise, aquelas que possuem melhor chance voltam para o microscópio, no qual confirmamos a ligação”, explica o perito oficial Francisco da Silva Martins.

O trabalho de comparação em busca de um match, porém, começa muito antes do material chegar ao laboratório. É durante a ocorrência, na cena do crime, que o perito faz a coleta e, posteriormente, a triagem dos vestígios balísticos. Esses materiais, que são registrados e custodiados, são encaminhados para o laboratório, onde são processados de acordo com a sua natureza.

“Dependendo da situação, ele oferece subsídio aos peritos para que sejam realizados novos confrontos balísticos na tentativa de vincular a arma ao crime”, esclarece o chefe da Divisão Operacional da PCP, Leonel Letnar Junior. “O primeiro match do Brasil foi do Paraná. Atualmente estamos com 634, com a expectativa de que neste ano seja atingido mil combinações”.

E a expectativa tem embasamento nos números. No primeiro ano de operação do sistema, em 2022, foram 70 combinações feitas pela Polícia Científica do Paraná. Em 2023, foram 117 matches, crescimento de 67%. O salto, porém, foi em 2024, com 383 compatibilidades, aumento de 227% em relação ao ano anterior. Somente nos dois primeiros meses de 2025 foram 52 matches, totalizando 622.

Os dados do Sinab ainda não foram atualizados com os registros positivos de março, o que explica a diferença de 12 combinações entre os 634 da PCP e os 622 do sistema. Em todo o Brasil, foram 4.278 combinações confirmadas desde 2022 até fevereiro deste ano, com o Paraná representando 14,5% desse total.

“Toda vez que conseguimos essa confrontação positiva de um projétil coletado com uma eventual arma é um match, e não necessariamente precisamos ter acesso a essa arma. Conseguimos fazer uma relação de ocorrências de locais, mesmo distintos, mostrando que aqueles vestígios balísticos foram expelidos do mesmo cano da arma”, destaca Letnar.

TRABALHO INTEGRADO – Para que os resultados possam ser analisados e comparados dentro no Sinab, a coleta dos vestígios precisa de alguns cuidados. Para isso, os peritos da PCP contam com o auxílio de outras forças de segurança pública, como a Polícia Militar (PMPR) com o trabalho de isolamento da área; e a Polícia Civil (PCPR), que realiza a investigação e encaminha os pedidos de análise para a Polícia Científica.

Com um vasto banco de dados, o trabalho da PCP deixou de ser reativo, apenas recebendo os pedidos da PCPR, e passou a ser ativo, conforme detalha o chefe da Divisão Operacional. “Antes do sistema existir, ficávamos muito mais limitados, porque esses confrontos eram requisitados apenas com base nas informações de investigação”, diz.

“Depois da implementação, começamos a fazer correlações de crimes que, em um primeiro momento, não haviam sido feitas na fase de identificação. Nós passamos a provocar a Polícia Civil informando sobre essas correlações através dos elementos balísticos e armas de fogo”, salienta.

“Conseguimos fornecer para a delegacia um laudo que liga dois locais que eles não tinham conhecimento. Notificamos o delegado com o laudo pericial dessa ligação e, a partir disso, eles conseguem trocar informações a respeito dos inquéritos envolvidos, seja para chamar uma testemunha em comum ou um suspeito, ajudando na solução desses casos”, acrescenta Martins.



O primeiro match do Brasil foi do Paraná. Foto: Roberto Dziura Jr./AEN

NOVOS INVESTIMENTOS – Para que esse trabalho seja possível, os técnicos e peritos contam com equipamentos de ponta para o processo de análise. Além de quatro microscópios de comparação balística Vision X distribuídos pelo Estado, a PCP conta com dois IBIS TRAX HD3D, máquina que analisa o projétil ou estojo e realiza uma espécie de triagem dos resultados, mostrando aqueles que podem ser compatíveis e descartando os negativos.

“O Paraná tem uma infraestrutura bastante moderna. Graças a investimentos da Secretaria de Estado da Segurança foram adquiridos novos comparadores balísticos e tanques de coleta de padrão, o que agiliza o tempo para que esses projéteis possam ser inseridos no sistema”, afirma Letnar.

No entanto, o trabalho humano ainda é fundamental para a confirmação final das compatibilidades. “O sistema é um facilitador, permitindo a correlação dos casos, mas o confronto do projétil depende do perito. Mesmo que o sistema aponte uma possibilidade de correlação, é preciso fazer um confronto final. O perito vai para o microscópio com os projéteis questionados para confirmar a indicação do sistema”, acrescenta.

No caso dos microscópios, dois estão em Curitiba e outros dois nos polos de balística forense da PCP em Maringá e Londrina. Outros polos estão em processo de implementação em Ponta Grossa, Cascavel e Foz do Iguaçu. Hoje as unidades do Interior fazem a triagem do material coletado, tanto do local quanto da necropsia, e realizam a análise prévia com a determinação de calibre. Esses materiais são encaminhados para Curitiba para confronto. Desta forma, a delegacia sabe o calibre da arma envolvida, enquanto que o material recebido vai para o microscópio para o confronto.

O reforço tecnológico também é acompanhado pelo reforço no recurso humano. No último concurso para agente de perícia, de 2023, foram nomeados 136 técnicos, sendo que 27 deles já estão atuando e os demais em curso de formação. Já o certame para o cargo de perito, realizado em 2024, está na fase final, com a avaliação médica dos candidatos aprovados e, na sequência, a homologação do resultado. São 30 vagas iniciais, que podem ser ampliadas a partir da necessidade e disponibilidade financeira.

“O Paraná tem toda a infraestrutura pronta e agora, com o apoio da Secretaria da Segurança Pública, estamos na fase de contratação de técnicos de perícia e de peritos criminais que são esperados para esse ano. Vamos reforçar ainda mais o quadro e, por consequência, aumentar o número de inserções e matches. Estamos buscando a liderança nacional no Sinab”, afirma Letnar.



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