Arquivos

Conversa com um curitibano #01

CURITIBA NÉ

Dois homens na faixa dos trinta anos num desses quiosques de café da XV.

– E esse frio ein.

– Porra, nem me fale, olhei, vi o sol, pensei, vou sair só de camiseta, de boa, sai congelou o meu mamilo.

– Também o sol de Curitiba parece lâmpada de geladeira, só serve pra iluminar.

– Ai quando tem aquele sol que esquenta os loco saem na bicuda pra ver quem fica no sol.

– Verdade. Curitiba né.

– E o transito?

– Minha nossa, ta cada vez maior, já pegou visconde seis horas da tarde?

– Pelo amor de Deus, paulista se sente em casa.

– Cê fica tanto tempo parado na linha verde que chega a ficar madura.

– Verdade.

– Curitiba né.

– E pra conseguir embicar.

– Minha nossa.

– Mah nenhum lazarento da vaga.

– Hum, eles olham pra frente e fingem que nem estão ouvindo.

– Erguem o som e olham para frente como se tivessem vendo um miragem.

– Um dia tinha que buscar meu pia na escola, tava saindo da garagem ali na rápida que vai pro Barigui, demorei tanto pra conseguir sair que quando cheguei o pia já tava se formando na faculdade.

– Curitiba né.

Um terceiro cara está no café, ouvindo a conversa, tenta entrosar.

– E pra dar informação, parece que você ta pedindo o anus.

– Capaz, Curitibano da informação sim.

– Mas da errado que é pra você largar a mão de ser besta e se informar direito antes de sair de casa.

– Curitiba né.

Os três caem na gargalhada.

– Onde você ta morando mesmo?

– Do Bigorrilho e você?

– Água verde.

Os dois perguntam para o terceiro homem.

– E você?

– Eu não sou daqui não. Sou do Espirito Santo.

Os dois homens se olham, fecham a cara, levantam-se, pagam a conta e vão embora do café.

O capixaba fica olhando sem entender, olha para o caixa que olha fixamente para frente e finge que não tem ninguém na cafeteria.

Moral da história: Curitiba é como filho, só Curitibano pode falar mal.